São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Goleada brasileira provoca preocupação

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A goleada de 4 a 1 sobre o Canadá, na estréia brasileira na Copa Ouro, ao invés de provocar euforia, vincou uma ruga de preocupação no observador que espia um pouco além: o Brasil em Atlanta. Explico: foram três contragolpes, três gols, em menos de 15 minutos de bola rolando em Los Angeles.
Porém, durante três quartos do jogo, o Canadá teve o domínio da bola e dos espaços. Só submeteu-se depois que Leandro, autor do quarto gol, substituiu Sávio, uma das nossas maiores esperanças. Foi então que a equipe conseguiu agrupar-se a partir do meio-campo e encetar ataques maciços, como manda a regra.
Resumindo: a não ser que neste torneio o time consiga se ajustar rapidamente, para o Pré-Olímpico, Zagallo não poderá abrir mão de Juninho e de Ronaldo.
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Na pior das hipóteses, foi um genial golpe publicitário essa história mal-contada do invisível ataque nipônico ao nosso maior artilheiro, Túlio. Até agora, não se soube qual clube, que empresário japonês, quem, enfim, teria oferecido cerca de US$ 13 milhões por Túlio. O que se sabe é que a jogada de mestre mobilizou a mídia, disparou o coração botafoguense e abriu os cofres dos patrocinadores, que reservaram uma pequena fortuna para manter Túlio por aqui. E ainda recapturou Donizete, que já se preparava para embarcar em direção ao Sol Nascente.
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O curioso é que Túlio, embora seja o maior goleador brasileiro das duas últimas temporadas, nem sequer pode jactar-se de ser o titular da seleção brasileira. Zagallo reluta há tempos em firmá-lo como tal, não sem ponderáveis razões. Afinal, Túlio é um desses especialistas que não participa das jogadas coletivas da equipe. O diabo é que, a exemplo de Romário -outro que não desce pelo gargalo zagalliano-, faz uma montanha de gols, jogo após jogo, com sol ou com chuva e contra quem quer que seja. E o gol é simplesmente a razão de ser do futebol.
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A Fifa, de cem em cem anos, mete o dedo nas regras de ouro do futebol. Às vezes, acerta, como na proibição do goleiro recolher com as mãos um passe de seu companheiro. Mas cometerá um sacrilégio se ampliar as dimensões da meta.
Se a Fifa quiser mesmo aumentar as perspectivas da emoção do gol, revitalizando o jogo como espetáculo, deve desviar os olhos das metas e dos goleiros e concentrá-los no centro do campo, a nobre área de criação que se transformou em bárbara zona de conflagração.
Sete faltas coletivas, cobrança de tiro livre direto da entrada da área, eis a salvação do futebol. O resto é tergiversação.

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