São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Crise impõe mudanças a setor imobiliário

RODRIGO AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado imobiliário de São Paulo terminou 1995 em baixa, e a situação não deve se modificar nos primeiros meses deste ano.
Essa crise está mudando o setor. Com consumidores cada vez mais seletivos, as empresas têm de planejar melhor os seus lançamentos.
"Não haverá mais a compra de um imóvel por impulso", prevê o consultor João Freire D'Ávilla, da Amaral D'Ávilla Engenharia de Avaliações.
"A insegurança do consumidor é bastante sensível", concorda Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, diretor da Adviser Consultoria Imobiliária.
O recado que ambos querem passar é o seguinte: ninguém deve esperar, neste ano, um estouro de vendas similar ao ocorrido entre agosto de 94 e maio de 95.
Naquele período, segundo o Datafolha, foram vendidos em média 13,4 imóveis novos de cada 100 oferecidos.
No segundo semestre do ano passado, porém, as vendas caíram para uma média de 4,5 imóveis a cada 100 ofertas.
"Se houver recuperação em 96, ela acontecerá somente no segundo semestre", diz Ribeiro.
Os motivos vão desde as altas taxas de juros, que incentivam a fuga de capital para o mercado financeiro, ao endividamento da classe média, que comprou tudo o que pode no primeiro semestre e descobriu, no fim do ano, que não tinha dinheiro para pagar a conta.
Assim, o legado de 95 é um consumidor prudente, que só vai abrir a carteira quando encontrar o imóvel que realmente desejar.
Para João Freire D'Ávilla, essa nova postura do comprador de imóveis obrigará as construtoras a realizar lançamentos apoiados em um profundo planejamento.
"Antes, quando o construtor tinha um terreno na mão, ele se perguntava 'o que posso construir aqui?'. A partir de agora, a pergunta passa a ser 'qual o produto ideal para esse terreno?'."
Essa mudança é bem mais do que retórica. O consultor afirma que cada região da cidade possui uma vocação própria, com consumidores que desejam um determinado tipo de produto.
Após identificadas tanto a vocação do terreno quanto a vontade do consumidor, explica, o construtor deve descobrir se vai conseguir vender o imóvel a um preço competitivo e com uma boa rentabilidade. "Quem não fizer tudo isso vai acabar saindo do mercado."

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