São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Presidente consolidou UE

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

François Mitterrand deixou a França com um PIB de US$ 1,2 trilhão. O PIB alemão já chegava, no entanto, a US$ 1,9 trilhão. A partir de 1991, com a unificação alemã, estava definitivamente encerrada a disputa entre os dois países pela hegemonia européia.
Mitterrand não apenas aceitou o fato consumado, mas também extraiu dele as consequências políticas para o aprofundamento do processo de integração da Europa, o que certamente será visto no futuro como o seu maior legado.
A bipolaridade Bonn-Paris foi a principal característica da atual UE desde a assinatura do Tratado de Roma (1957), que criou um mercado comum entre os primeiros seis parceiros do continente.
Adenauer e De Gaulle oficializaram esse vínculo privilegiado nos anos 60, por meio de um tratado que instituiu mecanismos frequentes de consultas bilaterais.
Era a lógica que prevalecia até 1981, quando Mitterrand foi eleito para seu primeiro mandato. A interdependência econômica favorecia a paz na fronteira do Reno.
Nos anos 80, a importância relativa da Alemanha cresceu, em razão de sua maior resistência à agressividade comercial dos tigres asiáticos. A França, enquanto isso, estatizava o sistema financeiro e conglomerados industriais e recuava no processo de privatizações.
A idéia de unificação monetária, lançada por Mitterrand em 1989, supunha a predominância do marco como moeda mais forte e a criação, em Frankfurt, do futuro Banco Central Europeu.
Veio então, ao final daquele ano, a queda do Muro de Berlim. A perspectiva de reunificação apontava para um grave desequilíbrio fiscal na Alemanha, uma taxa menor de crescimento e, em consequência, um encolhimento do principal mercado externo francês.
Mitterrand poderia ter recuado, sobretudo como forma de combater o desemprego francês. Mas tornou-se, em setembro de 1991, o grande arquiteto do Tratado de Maastricht (em vigor desde 1993), que radicalizou a integração.
O papel da França na ex-Europa de 12 membros (e hoje com 15, após a entrada da Áustria, Finlândia e Suécia) é privilegiado. Rodeada de regimes parlamentares -sujeitos à troca abrupta de chefes de governo-, ela tem no presidente, com sete anos de mandato, o condutor europeu dos processos mais longos e delicados.
Com Jacques Chirac, mais compreensivo para com os chamados "eurocéticos", arrefeceu a obsessão pela construção européia. Mas, se de um lado o processo de integração tende a caminhar em velocidade menor, de outro não há possibilidade de recuo.
Na manhã de quinta, a TV focalizou lágrimas do chanceler Helmut Kohl. Ele era um dos governantes presentes à missa celebrada no momento em que Mitterrand era sepultado em Jarnac.
Havia muito simbolismo europeu no gesto inesperado e rápido descontrole emocional.

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