São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Monótono jogo de cena

Certa parte das lideranças políticas do país continua insistindo em um jogo de cena sem qualquer parentesco com a realidade.
É o caso, por exemplo, da reiterada ameaça de dirigentes do PFL de distanciar-se do governo federal, ora porque se sentem atingidos por episódios como o da pasta rosa, ora porque acham que dão ao governo muito mais do que o governo oferece ao partido.
A dissensão não parece ser para valer. Em primeiro lugar porque o PFL nunca conseguiu, em toda a sua história, cortar o cordão umbilical que o liga ao governo, seja ele qual for. Seria assim pouco provável que o fizesse agora.
Mesmo que houvesse tal intenção e o partido se declarasse formalmente na oposição, essa decisão quase não teria consequências concretas. Afinal, o governo executa uma política que, no fundamental, corresponde às posições do PFL. Com que argumento um pefelista justificaria votar contra, por exemplo, a reforma da Previdência, elaborada por um ministro que é deputado do partido? De modo similar, não haveria espaço ou justificativa para, de repente, contrapor-se às privatizações, para as quais o partido, até agora, só tem pedido maior rapidez.
Outra ficção vem do PMDB. De tempos em tempos alguém no comando partidário ameaça distanciar-se do governo. Ainda que o presidente do PMDB, o deputado Paes de Andrade, de fato deseje o afastamento, dificilmente conseguirá pô-lo em prática.
Isso por uma simples e suficiente razão: o PMDB não passa hoje de uma confederação de interesses regionais, pessoais ou ambos. Não obedece, por isso mesmo, a comando algum. O líder formal pode determinar que o partido se afaste. O que vai acontecer? O mesmo de sempre: alguns peemedebistas rompem apenas porque lhes convém, não por obediência a uma decisão superior. E outros, que avaliam ser melhor seguir com o governo, é provável que assim o façam, apesar da determinação em contrário.
Parece claro, pois, que tudo não passa de um jogo de cena que, aliás, já se tornou monótono.

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