São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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O nome, esse abacaxi

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há muitas e muitas luas, como diziam os índios do cinema, a atriz Elizabeth Savalla fez a personagem Carina, na novela "Pai Herói".
Era uma bailarina bonita, rica, charmosa, simpática, doce e generosa. Os telespectadores se encantaram com a moça, muitos a ponto de darem o nome de Carina a suas filhas.
Estando associado às prendas da personagem, e sendo, ademais, incomum e de sonoridade agradável, o nome Carina não deve desagradar a suas portadoras.
Nem sempre, contudo, a elogiável intenção dos pais de fugir aos clichês resulta em satisfação dos filhos.
Há quem ache que as pessoas deveriam ter uma designação provisória, mera referência sem valor legal, até terem critério para escolher e adotar um nome de seu agrado.
Argumenta-se que não é justo sermos designados, por toda a vida, por uma ou duas palavras que nossos pais podem ter escolhido em momentos de pouca inspiração. De compulsória, já basta a herança dos cromossomos.
Outro dia foi reprisada no "Onze e Meia" uma entrevista de Jô Soares com a cantora Baby do Brasil, que acabara de renunciar ao já famoso "Baby Consuelo".
Aliás, Baby não foi a única da família a mudar de nome: sua filha Sara Shiva, há não muito tempo, chamava-se Riroca.
Baby contou que seu nome de batismo é Bernadete Dinorá; o "Baby" foi inspirado por BB (Brigitte Bardot, que na verdade se chama Camille Javal), e o "Consuelo" retirado da letra de uma música.
Baby vinha sendo chamada com frequência, para ela incômoda, apenas de "Consuelo". Decidiu substituí-lo, e teve a idéia do "do Brasil" durante uma peregrinação a Santiago de Compostela, em um episódio que envolveu o tingimento de seu cabelo por uma cabeleireira chamada, vejam só, Consuelo. Um sinal, certamente.
Se a lei não atingiu um nível de liberalismo que permite a mudança de nome por qualquer motivo, ao menos a admite com boas justificativas.
Para validar votos de eleitores que só os conhecem pelos apelidos, políticos costumam incorporá-los a seus nomes; caso clássico é o de Lula.
O motivo da mudança também pode ser afetivo: John Winston Lennon trocou a homenagem paterna a Churchill por um tributo à amada Yoko, passando a assinar John Ono Lennon.
Atores fazem diferente: preservam o nome de batismo, mas usam nomes artísticos de fácil pronúncia.
Para caber nos letreiros e nas bocas, Walter Matuschanskavasky mudou o sobrenome para Matthau; Issur Danielovitch tornou-se Kirk Douglas; Krishna Bhanji virou Ben Kingsley, e Demetria Gene Guynes preferiu ser desejada como Demi Moore.
Figuras eminentes do "show business" pátrio também usam nomes "fantasia": Senor Abravanel tornou-se Silvio Santos, para grande júbilo do auditório, que cortaria um dobrado para cantar "Senor Abravanel vem aí, pom-pom, porororom...".
Não menos sábia foi Xuxa, batizada de Maria da Graça. O programa que a consagrou entre os baixinhos teria tanto "xuxexo", se fosse o "Xou da Maria da Graxa"?
Autores de novela também escolhem a dedo os nomes de personagens, pois uma má inspiração pode comprometer a imagem construída pelas ações e palavras.
Em "Explode Coração", por exemplo: o empresário e político Júlio Falcão pareceria tão respeitável e imponente, com o nome de "Dr. Salgadinho"? E Vera, a esquálida pálida, arrastaria a asa para alguém chamado "Bebeto a Jato"?
Em tempo: mais de uma vez, me perguntaram de onde tirei o pseudônimo com que assino a coluna. Não é pseudônimo.

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