São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O clube dos falidos

JUCA KFOURI

A Folha publicou no sábado um levantamento mostrando como alguns clubes de regiões poderosas como Araraquara, Ribeirão Preto, Bragança Paulista, São José do Rio Preto estão endividados e sem saída.
Em compensação, a Federação Paulista de Futebol está cada vez mais rica.
Primeira pergunta: quantas vezes você, caro leitor, foi a um estádio assistir ao time da Federação?
Segunda: como insistir na falácia de dizer que o Campeonato Paulista é o mais rentável do Brasil? Rentável para quem, cara-pálida?
A verdade é que vivemos uma situação de socialização da miséria em nosso futebol.
Um quadro em que os clubes médios não crescem e os grandes ficam menores, vampirizados por campeonatos que os obrigam a levar suas estrelas que valem fortunas apenas para manter artificialmente vivos seus inúmeros dependentes, alimentando o que se pode chamar de corporativismo esportivo.
Os grandes subsidiam os menores e, demagogicamente, há os que, tomados por jamais reveladas preocupações sociais, se arvoram em defensores dos direitos da maioria, os pequenos e médios, sem os quais os grandes não existiriam. Balelas.
A maioria está concentrada é em torno dos grandes clubes, obrigados a se desfazer de seus maiores ídolos, trocando-os por liras, ienes, marcos e dólares para sobreviver.
A tendência dos times menores, caso não tenham competência para se estabelecer, é mesmo a do simples desaparecimento, revertendo à condição de amadorismo no futebol, celeiro de novos talentos e ponto final -sem prejuízo de seu patrimônio usufruído por seus sócios.
Ou, então, que se façam fusões, porque futebol é negócio, não benemerência.
País rico, povo pobre, futebol milionário, clubes miseráveis, os males do Brasil são.
Muito por incompetência, bastante por mera corrupção, grande parte por cegueira e adoção de métodos que o mundo moderno -êta palavrinha que se desgastou tão rapidamente- já abandonou faz tempo.
Por ironia, aqueles que, de boa fé, defendem a manutenção dos falidos campeonatos estaduais -e, se em São Paulo a situação é essa, imagine no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro- não percebem que apenas colaboram para perpetuar a situação de penúria dos clubes que pensam defender.
Vão gostar de miséria lá em Pindamonhangaba.

Texto Anterior: De novo o Palmeiras cai fora da Copa SP
Próximo Texto: Seleção chega à faculdade e vira 'academia do futebol'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.