São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 1996
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Medíocre

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - O balanço das atividades parlamentares que a Folha publicou ontem mostra um Congresso regular, no sentido de mediano.
Não parece ser mais aquele Congresso desmoralizado pelos seguidos escândalos de seus membros, mas ainda não tem a confiança da população.
Pesquisa Datafolha mostra que apenas 19% consideram seus deputados e senadores ótimos ou bons, contra 28% que os tacham de ruins ou péssimos. Se a ação desses parlamentares fosse traduzida em nota, seria 4,7.
O que o caderno especial Olho no Congresso detalhou foi uma maior assiduidade. Há mais presença nas votações e nas comissões. Mas, a se fiar na pesquisa, isso não parece ser suficiente.
A desconfiança que permanece tem origem nos vícios que se perpetuam. O Congresso pode estar se livrando de sua imagem de inapetência e preguiça, mas não da de balcão de negócios.
O discurso pode ser menos escancarado, mais sofisticado, como convém ao momento. Mas é difícil alguém ouvir o PFL dizendo "o partido está dando muito e recebendo muito pouco" e ficar sério. Do mesmo Inocêncio Oliveira, reconduzido à liderança do PFL, há outra pérola recente: "O parlamentar é como criança: precisa de carinho".
As chantagens praticadas nos últimos dias pelo PMDB, as falsas ameaças do PFL, o troca-troca de partidos, a falta de discussão em relação aos assuntos mais importantes e as pressões por cargos e verbas mostram claramente que se o quadro mudou, não mudou muito.
Ainda não nos livramos dos casuísmos (e vem mais, por aí, quando a proposta de reeleição entrar na pauta para valer), nem do fisiologismo. Os partidos, e as mudanças diárias de legendas mostram isso, continuam frágeis.
Enquanto não houver a reforma política -principalmente a introdução da fidelidade partidária-, esses partidos continuarão sem identidade, sem compromissos programáticos, descartáveis.
E enquanto assim continuarem, dificilmente terão credibilidade. E o Congresso continuará, com boa vontade, apenas mediano.

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