São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Israel prevê eleição violenta sábado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

A quatro dias das primeiras eleições da história palestina, a tensão subiu vários graus na Cisjordânia. Dois militares israelenses foram mortos ontem perto de Hebron.
Os militares, um soldado e um oficial médico, viajavam de Hebron a Jerusalém. Foram seguidos pelos palestinos, que dispararam contra o vidro traseiro do veículo que ocupavam.
Um comunicado do Exército israelense disse que o ataque foi efetuado por palestinos.
Hebron é a única das grandes cidades da Cisjordânia que Israel não entregou aos palestinos, mantendo fortíssimo esquema de segurança, que corta a cidade em dois.
O esquema protege os 415 colonos que vivem em plena Cidade Velha, o coração histórico de Hebron, cercados por cerca de 120 mil palestinos.
Antes do incidente, David Wilder, porta-voz dos colonos, jura que o sábado será normal para eles. Mas, como é o "shabat", dia em que recebem inúmeros visitantes, eles serão, "como de costume", levados a conhecer a cidade.
Como os colonos e seus visitantes não saem das colônias sem a companhia de tropas israelenses, o potencial de conflito é enorme.
Potencial reforçado por ser Hebron um feudo do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que se negou a participar das eleições e convocou os palestinos a boicotá-las ao menos em Hebron, por causa da presença dos colonos.
A polícia de Jerusalém avalia que radicais, tanto judeus como palestinos, tentarão provocar novos incidentes, em especial na própria Hebron e em Jerusalém.
"Minha hipótese é a de que haverá tentativas de perturbação de ativistas da extrema direita e da oposição palestina", diz Aryeh Amit, chefe policial de Jerusalém.
Para reforçar a hipótese, a polícia obteve a informação de que os rabinos mais ortodoxos, contrários ao processo de paz, deram permissão para que os fiéis entrem em locais de trabalho no sábado.
O "shabat", dia sagrado para os judeus, termina apenas às 17h40 do sábado, quando estarão se fechando as cinco agências dos correios (locais de trabalho, portanto) em que votarão os palestinos da parte oriental de Jerusalém, a área árabe da cidade.
Foram autorizados a votar nessa área apenas 5.000 dos 49 mil palestinos lá inscritos. Os demais terão de se deslocar para postos de votação na Cisjordânia.
Nestas primeiras eleições palestinas, votam mais de 1 milhão de eleitores, espalhados por Jerusalém, faixa de Gaza e Cisjordânia. Eles escolherão um Conselho de Autonomia e seu presidente.
Jerusalém é um ponto crítico por ser reivindicada como capital tanto pelos israelenses como pelos palestinos. Por isso mesmo, o rabinato convocou uma oração especial para o final da tarde de sábado, junto ao Muro das Lamentações, principal local do judaísmo.
Servirá como protesto, teoricamente silencioso, contra o que os ortodoxos consideram "progressiva infiltração" da autonomia palestina na parte oriental da cidade, segundo o jornal "Haaretz".
Também a oposição israelense ao processo de paz se movimenta na mesma direção. Danny Danon, ativista do Likud, o bloco ultraconservador que perdeu o governo para os trabalhistas em 92, mandou imprimir milhares de cartazes em que ameaça os palestinos de Jerusalém com a perda da cédula israelense de identidade.
"Você tem de decidir entre votar pela Autoridade Palestina e perder sua cédula de identidade."

Texto Anterior: Berlusconi vai hoje a juízo por corrupção; A FRASE - 1; A FRASE - 2; Fugitivo do cartel de Cali envia fax a jornais; Combates deixam 59 mortos na Somália; Renuncia líder da oposição portuguesa; Governador de Illinois comuta pena de morte; China quer dispensar 500 mil militares; Socialistas se lançam a premiê da Grécia
Próximo Texto: Rebeldes tchetchenos fazem novos reféns
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.