São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996
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Síndrome do Golfo opõe veteranos e governo

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Cinco anos após o fim da Guerra do Golfo, cerca de 40 mil veteranos que participaram do conflito continuam lutando para conseguir que o governo dos EUA pague indenização por uma doença misteriosa que teria sido contraída enquanto estavam no Iraque.
Esses soldados passaram a apresentar sintomas como perda de memória, fadiga, dores musculares, impotência, problemas cardíacos, insônia e depressão.
A doença recebeu o nome de síndrome do Golfo. Segundo a Associação dos Veteranos, esse conjunto de sintomas teria como causa a exposição dos soldados a armas químicas ou a contaminação por vacinas estragadas.
Em novembro de 1994, mil soldados entraram com ação conjunta numa corte federal de Galveston (Texas) contra 28 companhias que teriam vendido agentes químicos e biológicos ao governo do Iraque.
Segundo Francis Rothstein, advogado dos veteranos, os agentes teriam sido usados na fabricação de armas químicas e biológicas pelo exército de Saddam Hussein.
A ação reivindicava indenização de US$ 1 bilhão. Em abril de 95, as empresas foram inocentadas.
Desde o início de 1992, quando surgiram as primeiras queixas de soldados que teriam adquirido a síndrome, várias instituições públicas e privadas de pesquisa médica vêm tentando explicar o que aconteceu com eles.
A maioria dos estudos não conseguiu provar a existência da síndrome. Isso porque, apesar de os sintomas serem comuns a todos os soldados envolvidos, não foi encontrada uma causa comum.
Além de vacinas estragadas e do uso de armas químicas e biológicas, os estudos encontraram outras causas prováveis: calor em excesso, mordida de mosquitos, uso inadequado de repelentes, intoxicação por agrotóxicos e fumaça derivada da queima de pneus.
Em agosto de 95, 113 dos veteranos que teriam contraído a síndrome voltaram a entrar na Justiça em New Hampshire, dessa vez contra o governo dos EUA.
Eles queriam provar que por causa dos sintomas da síndrome estavam incapacitados para o trabalho. Dos 113 soldados, apenas 11 conseguiram provar que sofriam da doença e passaram a receber benefícios integrais concedidos aos militares aposentados.
O principal argumento utilizado pela Associação dos Veteranos para defender a existência da síndrome é uma pesquisa realizada pelo centro médico da Duke University (Carolina do Norte).
O estudo -financiado pelo ex-candidato à Presidência Ross Perot- analisou o comportamento de galinhas submetidas às mesmas condições dos soldados no golfo Pérsico: vacinas, agrotóxicos e repelentes. E concluiu que as cobaias apresentaram sintomas iguais aos veteranos que teriam contraído a síndrome.
Mas uma pesquisa publicada semana passada pela Associação Americana de Medicina reforçou a tese de que a síndrome não existe.
Segundo a pesquisa, o índice de mortalidade entre os soldados que participaram da Guerra do Golfo é igual ao de outros militares na mesma faixa etária.

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