São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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Sindicalista não respeitou alguns rituais de negociação

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT, desrespeitou algumas regras do ritual político que marcam as relações entre CUT e PT. Ou, na versão de alguns de seus "companheiros", cometeu erros no episódio do acordo. Comportou-se mais como sindicalista do que membro da frente de oposição anti-FHC.
Vicentinho teria se precipitado ao falar, após reunião de segunda-feira com o governo, em "acordo bom para o Brasil e para os trabalhadores".
O "sr. câmaras setoriais", tido como hábil negociador de acordos nacionais, não havia ainda, naquele momento, discutido a questão com o PT, com a executiva da CUT nem mesmo com sua corrente, a Articulação Sindical. Três transgressões em uma.
Foi na segunda-feira que Vicentinho aceitou trocar a "aposentadoria por tempo de serviço" por "aposentadoria por tempo de contribuição". A CUT e o PT vinham desenvolvendo campanha na defesa da "aposentadoria por tempo de serviço". Mas o governo convenceu Vicentinho de que a mudança para "tempo de contribuição" não cortaria direitos dos trabalhadores rurais e do setor privado informal.
E mais: Força Sindical e governo passaram a acusar a CUT de não querer mudar para manter os privilégios dos únicos que seriam realmente afetados, os funcionários públicos -incluídos aí parlamentares, juízes e governadores. Vicentinho aceitou a mudança. Tentou livrar a CUT de uma pecha e teve de enfrentar a fúria do PT.
O governo, que queria um acordo rápido, anunciou vitória. E conseguiu marcar reunião para a assinatura do acordo, com a presença do presidente FHC.
As reações foram imediatas, no interior da CUT e do PT.
Entidades de funcionários públicos, de professores universitários e de bancários, reunidos com a executiva da CUT, cobraram Vicentinho por telefone. Respondeu dizendo que não havia acordo.
Após pressão de parlamentares do PT, Vicentinho foi mais longe. Disse que a culpa foi da imprensa -toda ela, aliás-, que não entendeu o que ele disse, e do governo, que anunciou o acordo.
As tentativas de desmarcar a reunião foram inúmeras e infrutíferas. A saída foi comparecer, não assinar nada e defender a aposentadoria por tempo de contribuição, mesmo com as dúvidas no interior da CUT, inclusive da Articulação Sindical, corrente de Vicentinho.

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