São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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Acordo é mantido, Vicentinho ataca PT

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo e as principais centrais sindicais do país selaram ontem, em cerimônia no Palácio do Planalto, o acordo em torno da reforma da Presidência.
Na presença de sindicalistas, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que não haverá recuos na proposta.
"Nós chegamos a um processo em que há pontos fixos e, aí, não vai haver recuo nenhum. Daqui é para melhor, não é para pior", disse FHC. O acordo não foi assinado formalmente.
Os presidentes das três maiores centrais sindicais compareceram: Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Canindé Pegado, da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), e Luiz Antônio de Medeiros, da Força Sindical.
Vicentinho criticou o PT por censurar a negociação das centrais com o governo para a proposta de reforma previdenciária. "É lamentável isso porque a gente tem de estar unido. Nossos companheiros agiram com obstruções, resistindo às votações. Enquanto isso, nós conseguimos sentar com o governo para discutir", disse.
Segundo o presidente da CUT, sua entidade não quis tomar o lugar dos partidos políticos dentro da negociação. Ele disse que os deputados não devem ficar "chateadinhos" por não terem participado diretamente desse processo. "Pelo amor de Deus, eu já tive problema de ciúmes, mas foi de mulher", afirmou.
Vicentinho disse ter concordado com o acordo por acreditar que não altera a situação dos trabalhadores assalariados e não prejudicar os que estão no setor informal da economia. "Eu, como verdadeiro petista, tenho de garantir a independência da CUT", disse.
O PT não aprovou a participação da central na discussão da proposta. Entre os pontos acertados, estão a fixação da aposentadoria por tempo de contribuição e manutenção da aposentadoria especial para professores de 1º e 2º graus.
Ontem, Vicentinho disse que os pontos do acordo são importantes. "Mas queremos melhorar os pontos pendentes", afirmou. Entre eles, citou a permanência da aposentadoria especial também para professores universitários.
O sindicalista disse que não vai deixar que o PT ou qualquer outro partido interfira nas decisões da central. "Quero assegurar nossa autonomia. Foi o PT que nos orientou assim. Por isso, acho que os deputados estão pisando na bola", afirmou.
No Planalto, Vicentinho disse que tem sido muito criticado por ter participado das negociações. "Se uma central não for capaz de negociar, o que nós estamos fazendo aqui?", questionou.
Ao criticar o PT, ele conseguiu os primeiros aplausos da solenidade. "Queria dizer que um acordo em que todos participam corre o risco de ser o melhor acordo da história."
O sindicalista arrancou sorrisos de FHC ao se dizer vítima da imprensa. "Estou levando um pau danado da imprensa, presidente. Estou apanhando mais do que cavalo bravo", disse.
O presidente contra-argumentou, colocando-se na mesma situação. "É... Assim como eu."
Em seu discurso, FHC rejeitou as críticas feitas pela oposição. "Nós chegamos a um estágio de desenvolvimento em que questões nacionais são colocadas sem que se confundam com as questões partidárias ou de governo", disse o presidente. "Nós desejamos assegurar direitos permanentes dos trabalhadores. A hora, é agora."
O presidente elogiou Vicentinho: "É homem de boa-fé, como agora está demonstrando. Isso vale. Isso para mim vale muito. Havendo boa-fé, avança-se. Esse é um acordo de homens de boa-fé".
Depois da cerimônia no Planalto, Vicentinho participou do Fórum das Oposições na Câmara. Durante o discurso, na presença de deputados e dirigentes do PT, afirmou: "Quando viemos discutir com os deputados, explicar o que estava acontecendo, era para pegar apoio e não para levar porrada".
Criticou ainda a nota da bancada petista divulgada anteontem. "Tem inverdades, tem imprecisões, omite fatos e é contraditória", declarou.

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