São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PT monta uma operação 'salva-Vicentinho'

DENISE MADUEÑO

DENISE MADUEÑO; EMANUEL NERI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

EMANUEL NERI
O ex-presidente do PT Luiz Inácio Lula da Silva e o atual, José Dirceu, iniciaram ontem mesmo uma operação para apagar o incêndio entre a bancada do PT e a direção da CUT. Os dois se reuniram em Brasília com Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.
O PT adotou a estratégia de atribuir ao governo a responsabilidade pela divulgação de um acordo que não teria existido. Assim, tenta evitar bater de frente com a CUT.
"Foi apenas um protocolo de intenções. O governo tenta vender uma coisa que não aconteceu. O presidente convidou todos para uma mentira. O presidente é uma mentira que parece verdade", disse Lula.
A tática de evitar um choque com Vicentinho atende a dois objetivos. Primeiro, o partido não quer transformar o presidente da CUT em vítima e passar por radical. Em segundo lugar, quer poupar Vicentinho das correntes mais à esquerda da CUT.
Apesar do esforço para preservá-lo, o presidente da CUT ouviu críticas. Concordou com algumas e discordou de outras.
Tenso, Vicentinho disse a Lula e a Dirceu que estava muito magoado com as críticas que tem recebido de deputados do PT. A reunião, de caráter reservado, ocorreu antes do início da Fórum das Oposições -partidos e sindicalistas que articulam a resistência às reformas do governo.
A reunião também serviu de preparação para o Fórum das Oposições. Nesse encontro, Vicentinho adotou a mesma linha do PT, entre elas a manutenção do dia de mobilização contra a reforma da Previdência, no próximo dia 30.
Outro sinal de entendimento entre Vicentinho e a cúpula do PT foi o convite aceito por ele para ir à reunião do Diretório Nacional petista, amanhã, em São Paulo. Vai ser a primeira oportunidade para Vicentinho e a bancada do PT lavarem roupa suja. O presidente da CUT vai fazer uma exposição sobre sua participação no acordo.
Após as avaliações de Vicentinho, o diretório do PT fará uma apreciação sobre o episódio. Vicentinho tem amigos importantes na direção petista. O diretório do PT tem 85 membros -alguns deles acumulam cargos na CUT.
É o caso de Ricardo Berzoini, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Delúbio Soares, ex-tesoureiro da CUT e atual secretário sindical do PT, é da Articulação Sindical, a mesma corrente de Vicentinho na CUT.
Mas Vicentinho perdeu aliados importantes. O deputado Jair Meneguelli (SP), que o antecedeu na presidência da CUT, foi o primeiro a alertar o PT sobre a precipitação de Vicentinho na negociação.
Mal-Estar
Mas nem todas as tentativas para esfriar os ânimos conteve o mal-estar no PT. Para o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), a atitude da direção da CUT fragilizou os moderados do PT.
"A proposta do partido de reforma da Previdência foi mais dura do que a média da bancada desejava justamente para atender às centrais, e, agora, nós é que parecemos xiitas", disse.
Ontem, parlamentares do partido evitaram responder às críticas de Vicentinho: "Temos de entender", disse o líder da bancada na Câmara, Jaques Wagner (BA).

Texto Anterior: Acordo é mantido, Vicentinho ataca PT
Próximo Texto: Mais oito famílias vão receber indenizações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.