São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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Ascensão do futebol no Japão é irreversível

NELSINHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O futebol já "pegou" no Japão. Apesar da queda seguida de público verificada nas três edições do campeonato nacional, a J-League, há sinais claros de que a arte da bola viajou ao Oriente para ficar.
Os contratos milionários que atraem jogadores de todo o mundo, o esquema profissionalíssimo de tratar o assunto, a atenção dada pela mídia, dentro e fora do país, e a paixão que desperta na audiência local não deixam dúvida: o crescimento do futebol no Japão é irreversível.
Pode ser que a grande febre do esporte, provocada especialmente pelo caráter de novidade que teve no início da década, já tenha passado. Que a fase de crescimento rápido dos clubes e de ascensão acelerada do nível técnico tenha passado e dado lugar à manutenção do nível das temporadas anteriores. Mas o projeto de abrigar a Copa do Mundo de 2002 é um dado que garante aos japoneses manter o assunto na ordem do dia pelos próximos anos.
O país tem todas as condições objetivas para isso. Já existem estádios modernos em número mais que suficiente para abrigar a competição. A infra-estrutura de transporte e comunicação também é invejável. Isso sem falar na técnica futebolística propriamente dita. A evolução que pude observar, no ano e meio que já passei no Japão, é sensível.
Hoje, as chamadas revelações demonstram domínio de bola e muita personalidade, apesar da pouca idade. Os atletas orientais são muito disciplinados e têm atitude bastante profissional. Eles assimilam bem os ensinamentos e têm boas fontes -além dos colegas estrangeiros, a maioria dos técnicos que atuam hoje na J-League traz a experiência de países com tradição no futebol.
No processo de revelação de novos talentos, há um dado curioso. Os jovens vindos da universidade, após a conclusão do curso, com frequência se saem melhor que aqueles que vêm direto do colégio -as duas origens usuais de jogadores. Os ex-universitários mostram maior capacidade de compreensão das orientações. Pegam tudo mais rápido, parecem mais inteligentes.
Os brasileiros continuam sendo profissionais valorizados lá -por sinal, estão entre os estrangeiros que melhor se adaptam ao Japão. Em um ou outro caso, a adaptação é mais difícil, mais por conta da família do que propriamente do jogador. Filhos, mulher e outros parentes encaram muitos obstáculos para se integrarem a uma cultura de costumes tão diferentes, e isso acaba tirando a estabilidade emocional do atleta, que não rende 100% e, por vezes, prefere voltar ao Brasil.
É claro que o futebol japonês -e o dos atletas japoneses- ainda tem muito que melhorar. Mas foi mais longe do que o mais otimista dos que apostaram nesse esporte poderia esperar em tão pouco tempo. Basta dizer que, na criação da J-League, esperava-se que ela demorasse dez anos para se sedimentar e dar lucros.
E esse sucesso, três anos depois, já é uma realidade.

Nelson Baptista Jr., o Nelsinho, 46, é técnico do Verdy Kawasaki, do Japão

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