São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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Ex-presidente vê razão política em demissão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Isaías Custódio, disse ontem que foi demitido porque teria se recusado a anistiar dívidas de armazenadores.
Segundo ele, a proposta teria sido feita pelo deputado federal José Janene (PPB-PR). O PPB, que faz parte da base de sustentação política do governo FHC no Congresso, deverá indicar agora o novo presidente.
Janene, segundo Custódio, queria que a Conab renegociasse dívidas de armazenadores e cooperativas que desviaram produtos dos estoques públicos.
Por não ter aceito a proposta, segundo Isaías, o PPB resolveu tirar seu apoio para mantê-lo no cargo e pediu sua substituição. Ele havia sido indicado pelo líder do partido na Câmara, Odelmo Leão (MG), em março.
"Me insurgi contra isto porque recompor estas dívidas poderia prejudicar o volume dos estoques do governo", disse.
Ele afirmou que o deputado propôs a recomposição destas dívidas com pagamento em três parcelas anuais e multa de 20% sobre o montante desviado.
No caso de desvio, o armazém ou produtor rural é descredenciado pelo governo e passa a responder processo criminal.
Outro lado
A Folha tentou falar com José Janene no seu gabinete, em Brasília, e no escritório, no Paraná. Seu assessor do parlamentar, identificado como Amador, disse que ele estava no interior do Estado, visitando prefeitos e que não saberia localizá-lo.
Foi deixado telefone para contato, mas o deputado não retornou a ligação até as 20h de ontem. Ninguém na liderança do PPB foi achado para comentar o caso.
A demissão de Isaías foi publicada ontem no "Diário Oficial da União". Ele convocou a imprensa para explicar o motivo de sua demissão. O diretor de Abastecimento, Paulo César Furiatti, também foi dispensado.
Segundo ele, o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, disse que a sua permanência no cargo iria dificultar as negociações do governo com o Congresso.
A Folha também tentou falar com Eduardo Jorge, mas sua assessoria informou que ele está viajando e só retornará a Brasília na quarta-feira. A assessoria não quis informar onde ele está.
Isaías Custódio negou que tenha se omitido em relação a desvio de grãos dos estoques públicos.
Ele confirmou, no entanto, que há 6.000 processos em andamento na Justiça sobre desvio de produto do governo. Estes processos representam mais de R$ 200 milhões.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse ontem que a demissão de Custódio não significa que haja "qualquer implicação ou suspeita" do governo contra ele. Amaral disse que o governo apenas deseja reformular a Conab.

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