São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Crianças dizem que sentem mais segurança

CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PIMENTEIRAS (PI)

O teto baixo de pedra é sujo e sufocante, a caverna mais parece um forno nas noites quentes e a água da chuva escorre com força pelas fendas, encharcando o chão e destruindo os poucos pertences. Morar ali, mesmo assim, não parece má idéia para Maria José Sousa da Silva, 9.
"Aqui é melhor, a nossa outra casa vivia caindo", ela recorda, referindo-se à habitação de paredes de barro cobertas com palha que abrigava os pais lavradores e os dois irmãos em Campo Maior (PI), antes de a família se acomodar sob um rochedo saliente na fazenda São Caetano. Outro tipo de teto que a garota já experimentou foram as folhas de um cajueiro.
Maria José, a irmã Antônia, 5, e as meninas Maria do Desterro, 7, e Francisca, 4, moradoras da caverna vizinha, nunca foram à escola. Mas contam que o passatempo preferido é justamente "brincar de escolinha": a professora Desterro desenha algumas letras do alfabeto que a mãe lhe ensinou e as demais tentam copiar em pedacinhos de papel velho.
As crianças estão de pé antes das 6h nas cavernas de São Caetano. Elas dormem ao lado dos pais nos chamados jiraus, um tipo precário de cama montada com varas de madeira e uma fina camada de palha que serve de colchão, enrolada em pedaços de lençol.
Nos quartos improvisados, o teto de pedra quase raspa a cabeça das meninas. Outro inconveniente para dormir é a fumaça das fogueiras, acesas no início da noite para espantar insetos.
"Na nossa casa nunca apareceu cobra, só na deles", conta Maria José, aliviada, carregando duas latas grandes que irá encher de água no poço a 300 metros da caverna.

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