São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Perfumista diversifica para abocanhar novos mercados

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1978, um jovem de 17 anos tomou um ônibus de São Paulo com destino ao Pará a fim de comprar ervas e essências que o permitissem fabricar um dos perfumes mais cotados entre os jovens da época, o patchuli.
O então alquimista mirim Jacques Broder ignorava que várias empresas de São Paulo já fabricavam e vendiam a essência.
Para quem passou a infância extraindo perfumes e fragrâncias de flores, a viagem de 3.000 quilômetros foi só mais um episódio da aventura que em 1985 se transformou em empresa.
No ano passado, O Alquimista, carro-chefe (com 80% das vendas) das quatro empresas de Broder, faturou R$ 40 milhões, 74% a mais que em 1994.
A meta é chegar ao ano 2000 vendendo R$ 180 milhões por ano, num mercado que gira em torno de R$ 3,2 bilhões anuais.
Hoje, aos 34 anos, Broder toma conta de uma fábrica com 330 funcionários, possui uma linha de 110 produtos nas áreas de cosmética e perfumaria e se prepara para lançar mais 140 itens diferentes destinados às primeiras lojas da marca.
A primeira delas é própria e surgiu há um mês e meio, na zona sul de São Paulo. As demais estão sendo abertas pelo processo de franquia.
Os estudos para franquear a marca consumiram dois anos. De dezembro para cá, apareceram mais de 40 interessados no negócio. Ele já fechou contratos para abrir estabelecimentos em Belém (PA), Uberlândia (MG), região de Campinas (SP), em Ribeirão Pires (no ABCD paulista) e em sete pontos da cidade de São Paulo.
A idéia é sair de uma linha mais popular -como a negociada no varejo tradicional, no qual O Alquimista atua em cerca de 20 mil pontos de venda em quase todo o Brasil- e oferecer produtos de maior valor agregado, inclusive importados.
"A intenção de compra é outra", diz Broder, em relação ao consumidor que adquire um desodorante num supermercado e outro que o procura numa loja específica. Daí a nova linha.
Ele mesmo escolhe os novos produtos, apesar dos novos lançamentos e da jornada de trabalho corrida, que começa às 7h30 e não tem hora para acabar.
Aliás, boa parte de seu sucesso pode ser atribuída, literalmente, a seu faro para os negócios. Mesmo tendo amargado alguns fracassos, "de produtos lançados no momento e no local errados". Jamais estudou qualquer ciência relacionada ao seu trabalho -fosse química, botânica ou biologia.
Broder é formado em direito. Sua vocação era outra. "Em toda família judaica, o filho tem de ser médico, advogado ou engenheiro. É importante ser doutor", comenta.
No final das contas, a família acabou ocupando lugar de destaque em sua vida profissional. O nome da empresa é uma homenagem ao avô Aron, um alquimista à antiga, rabino, que fundou o laboratório Catedral nos anos 30, na Argentina. Broder não tinha muito contato com ele.
"Tive dois avós importantes na minha vida", comenta.
O empresário foi praticamente filho do avô materno, Motel (ou "Max", como era conhecido), de origem polonesa.
"Ele me criou -meus pais são separados. E foi ele quem me deu as bases morais e profissionais."
Foi mais que isso. Max ensinou a Broder tudo o que ele sabe hoje sobre negócios, embora nunca tenham trabalhado juntos n'O Alquimista.
Antes de virar empresa, em 1985, O Alquimista foi um sonho de seis anos na economia informal. Nesse período, Broder aprendeu o que era administrar.
Até então, ele não sabia nada de negócios -mas já tinha em mente o que era ganhar dinheiro e perseguir objetivos.
Aos 13 anos, arrumou o primeiro "emprego": comprava tecido na rua 25 de Março, no centro de São Paulo, fazia almofadas e vendia de porta em porta.
O objetivo: comprar o primeiro carro, um Karmann Ghia. E conseguiu. Durante anos, dirigiu um modelo amarelo sem habilitação -nem problemas.
Aos 17 passou a produzir perfumes. Trabalhava na produção durante o dia, frequentava a faculdade à noite e ainda arrumava tempo para, de madrugada, imprimir os rótulos numa pequena gráfica.
"A faculdade foi para agradar meu avô", revela.
Broder é apaixonado por seus três cães mastim napolitano, animais que, adultos, podem pesar até 70 kg cada, que cria sem remorso no apartamento de 100 m2 onde mora sozinho, no bairro de Moema (zona sul de São Paulo).
Dá para imaginar o que os bichos fazem no apartamento. Mas Broder sobrevive no condomínio graças à estratégia de distribuir perfumes, xampus e desodorantes entre funcionários e moradores.
"Como eu sou muito querido lá, eles têm vergonha de me botar para fora."
Seu próximo projeto pessoal é dar um novo lar à matilha. Broder quer, ainda neste ano, comprar uma casa fora de São Paulo, "em alguma cidade vizinha, de onde possa vir trabalhar e melhorar a qualidade de vida".
Outra meta pessoal é casar até o ano que vem. Mas ele não está atrás de concorrentes. O trono já tem candidata definida há pouco mais de um mês -Broder, porém, não conta quem é.

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