São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Tendência do juro é de queda, diz governo

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O juro de ontem não será necessariamente maior do que o de hoje. A taxa pode flutuar de acordo com as circunstâncias, já que a economia está desindexada. A tendência é de queda dos juros, mas isso não significa linearidade.
O recado é do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros.
Para ele, não há contradição alguma entre a ação do BC (Banco Central), que produziu esta semana uma elevação das taxas de juros, e as declarações, publicadas nesta Folha domingo passado, do ministro Pedro Malan, que previa que a taxa média este ano seria a metade da praticada em 1995.
"O mercado estava pedalando a tendência de queda", afirma, para depois completar: "Estava operando para o curto prazo uma tendência que é de longo prazo. E exagerou."
Além do exagero nas projeções do mercado, outra razão empurrava as taxas para baixo: a liquidez abundante.
Mendonça de Barros diz que "o mercado estava aguado (com excesso de dinheiro)" e o BC foi obrigado a agir.
É que, explica o secretário, "em janeiro, volta ao mercado toda expansão monetária de dezembro, o que é sazonal. Além disso, o ingresso de dólar tem sido bastante positivo. Ocorre que, o que também é sazonal, a demanda por moeda em janeiro é também menor".
A elevação dos juros foi descrita pelo secretário como "apenas uma decisão do dia a dia da gestão monetária".
Mendonça de Barros diz que estão equivocados os que vinculam a elevação dos juros ao comportamento da inflação ou do nível de atividade econômica.
Para ele, o cenário catastrófico, de queda abrupta do nível de atividade, que se previa para o primeiro trimestre do ano "não aconteceu".
É que, diz o secretário, as vendas de dezembro foram maiores do que o esperado. "A renda estava lá. A massa de rendimentos em termos reais não caiu."
Logo, os estoques ficaram em um nível mais baixo do que se previa, gerando um movimento de reposição nesse início de ano.
Essa reposição está sustentando um nível de atividade que é, segundo o secretário, compatível "com um crescimento de 4% do PIB (Produto Interno Bruto, uma medida da riqueza nacional) para 1996".
Safra de Verão
Mendonça de Barros diz que o nível de atividade sustentado pela reposição de estoques não deve se esgotar, já que a safra de verão deve aumentar a renda agrícola.
"Apesar de todos os percalços, a safra que vem do Sul do país deve ser 8% menor em quantidade, se comparada com a do ano passado, mas com preços bem melhores."
Segundo estimativas ainda preliminares, estima o secretário, os preços devem ser, em termos nominais, 20% maiores do que foram em 1995.
Essa correção de preços, segundo Mendonça de Barros, não terá impacto inflacionário, mas "deve ter impacto na demanda".
Ou seja, na margem, ao contrário do que aconteceu no ano passado, a renda agrícola vai puxar o nível de atividade para cima.
O secretário prevê um índice da Fipe para este mês entre 1,8% e 2,1%. Ele será muito alto "por conta da confluência de várias coisas".
Uma é que, em São Paulo, o reajuste da energia colou com o do telefone. Outra é que estão concentrados reajustes e pagamentos de uma série de impostos, como o IPVA e o IPTU.

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