São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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"Custo Brasil" é obstáculo, diz exportador

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da AEB, aposta no potencial do mercado asiático.
"A tendência, no ritmo que cresce a demanda dessa região por matérias-primas brasileiras, é o Sudeste Asiático superar os EUA como mercado para o Brasil dentro de dois ou três anos."
O maior mercado para os produtos brasileiros é a União Européia com 27,1% do total das exportações do país. Em seguida vêm a América Latina com 21,55% (o Mercosul responde por 14% disso), EUA com 18,7% e sudeste asiático com 17,6%
"As nossas projeções indicam que haverá uma pequena queda dos EUA, com o sudeste asiático passando rapidamente para 20%", afirma Pratini de Moraes.
Os países do Sudeste Asiático são principalmente os dez com maiores taxas de crescimento nos últimos dez anos: China, Japão, os "quatro tigres" -Cingapura, Hong Kong, República da Coréia e Taiwan-, Filipinas, Indonésia, Malásia e Tailândia.
Pratini de Moraes vê também perspectivas para as exportações brasileiras de bens de capital e para outros manufaturados e alimentos, como frango, café e açúcar.
Há, porém, um grande obstáculo para a exportação de manufaturados brasileiros para o Sudeste Asiático: o "custo Brasil" (juros altos, custo elevado da mão-de-obra, incidência em cascata de impostos sobre produtos de exportação, infra-estrutura de portos, aeroportos, estradas e telecomunicações deteriorada e cara).
"O problema central para as exportações de manufaturados é que a nossa competitividade está comprometida. Com a incidência de tributos, como Cofins, PIS e ICMS na exportação, aliada ao fortalecimento da moeda fica cada vez mais difícil exportar."
A AEB entende que a volta da tendência de superávits regulares na balança comercial depende de três fatores: correção da sobrevalorização do real, retirada dos impostos sobre as exportações e a colocação em prática do programa de modernização dos portos.
Para ele, o mais importante é a imunidade tributária na exportação. "No mundo inteiro, a exportação é isenta de qualquer imposto com a exceção de três países: Brasil, Burkina Fasso, na África, e Bangladesh, na Ásia, os três 'bs', de 'três burros', sem dúvida."
Na questão dos portos, Pratini afirma que com o aumento do comércio exterior, o gargalo dos portos se acentua. "É fundamental que se comece a investir mais em portos, se privatize os serviços portuários e se ponha mais dinheiro na modernização dos portos."
"Como a distância é grande e os custos de transporte são evidentemente elevados, é preciso ter um preço muito competitivo para poder entrar no Sudeste Asiático e enquanto tivermos impostos sobre exportação nossos manufaturados não terão essa competitividade".
Pratini de Moraes considera "excelente" o esforço de abertura de mercados que o presidente Fernando Henrique Cardoso está fazendo, liderando missões a países como a China, em dezembro passado, e a Índia, nesta semana.
"O presidente faz muito bem o marketing, só que na hora de fechar o negócio nós não temos preço para competir fora das matérias-primas."
(ACS)

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