São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Geração vencedora é 'ameaça' à fama do pior time do mundo

Íbis vira campeão juvenil pernambucano e irrita torcida

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Uma geração de vencedores compromete e ameaça a fama internacional conquistada pelo Íbis, conhecido como o pior time profissional do mundo.
O "problema", para a diretoria do clube, são os desavisados garotos do juvenil: eles ganharam, há um mês, o Campeonato Pernambucano dessa categoria.
Passaram por cima de 31 equipes, incluindo os "grandes" Sport, Náutico e Santa Cruz.
Para quem fez a fama no futebol com o marketing da "fracassomania" e do anti-heroísmo, a façanha dos juvenis é vista em Recife como um péssimo negócio para o clube.
"Foi uma tristeza para a nossa torcida", diz o bem-humorado presidente do time, Ozir Ramos, 61, dono de uma pequena gráfica.
"A meninada é um perigo para o nosso futuro."
O futuro, segundo gozação do próprio Ramos, pode ser Tóquio, onde se realiza todo ano a partida que define o clube campeão mundial. O Ajax, da Holanda, atual dono da faixa, que se cuide.
A profecia de Ramos, no entanto, pode não se concretizar.
Vários jogadores do time juvenil devem deixar a equipe para viver o sonho de vestir a camisa de um Sport, Náutico ou Santa Cruz.
É o caso de Clodoaldo, 17, por exemplo, considerado um jogador polivalente, que teve boas atuações tanto nas laterais como no meio-campo.
"Acabamos com essa história de que o Íbis vive de derrotas", diz Clodoaldo.
"Mas, agora, tenho algumas propostas, e o meu interesse é tentar em outro clube", diz ele.
Com o possível desmanche da equipe campeã juvenil, é provável que o time principal continue a ser o velho e bom Íbis de sempre: um time que só não apanha quando não joga, como se diz em Recife.
No último campeonato, quando disputou a Série B (segunda divisão), o time não ganhou nem uma partida sequer, mas ainda conseguiu um "indesejado" penúltimo lugar. Havia algo pior: o Carpina, lanterna absoluto.
O time principal perde tanto que o seu técnico, Ozir Ramos Jr., filho do presidente do clube, não lembra mais quando sentiu o último gosto da vitória. "Acho que faz uns dois anos", conta.
Ele treina um time mais do que modesto. Além de perder muito, os jogadores da equipe profissional ganham salários que não ultrapassam os R$ 150.
"É uma ajuda para os mais necessitados", diz.
Com 57 anos de vida e derrotas, o Íbis só ganhou dois campeonatos. E ambos na categoria juvenil: o primeiro em 1946 e este agora, disputado no finalzinho do ano passado.
Com o time principal, o clube conquistou apenas dois Torneios Início (1958 e 59), antiga competição festiva de abertura dos campeonatos regionais. Esse tipo de disputa era realizada em apenas um dia, com jogos de tempo reduzido ou morte súbita.
O nome do Íbis foi tirado de uma ave negra, pernalta, que voa pelos céus da Europa e África.
Reza a lenda que essa ave, que enfeita o escudo do pior time do mundo, transmite azar.

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