São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Tricampeão mundial gosta do sossego do Tatuapé

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A tranquilidade é a grande vantagem da zona leste. Essa é a opinião de um de seus habitantes mais ilustres -o ex-goleiro Félix, tricampeão do mundo com a seleção brasileira de futebol em 1970.
"A gente fica à vontade aqui. É um bairro sossegado", diz Félix Mielli Venerando, 58, que nasceu na Mooca e hoje vive no Tatuapé.
Sua única infidelidade à região aconteceu durante o tempo em que morou no Rio de Janeiro, onde jogou pela equipe do Fluminense, nas décadas de 60 e 70.
Ao voltar para São Paulo, instalou-se no Tatuapé. À sua volta, reuniu toda a sua família. Em menos de dez minutos de caminhada, consegue visitar todos seus filhos.
Para ir ao centro, precisa de um motivo muito forte. "Fico até 20 dias sem sair do Tatuapé".
Sua única queixa diz respeito ao abastecimento de água. "Às vezes, demoro mais de um dia para encher a caixa d'água de casa".
O amor de Félix ao bairro é retribuído por outros moradores. Ele foi, por exemplo, homenageado pelo Mc Donald's do bairro, que afixou em uma parede fotos e reportagens a seu respeito.
Axé
A religião é outro motivo que pode alimentar a fidelidade de um morador de um bairro. A mãe-de-santo Sylvia de Oxalá, por exemplo, diz que mora no Jabaquara porque encontrou no bairro o seu "axé".
O axé é o símbolo do candomblé que representa a força.
Sylvia Egídio, 57, é formada em enfermagem e administração de empresas e também foi atraída pela importância que o Jabaquara possui para a comunidade negra.
Segundo ela, no século passado, escravos fugidos das fazendas da região se reuniam no bairro antes de fugirem para Santos.
Sylvia explica que, então, era feita uma triagem dos negros que poderiam ou não descer a serra.
Essas pesquisas levaram-na a criar o Acervo Afro-Brasileiro, que reúne documentos sobre a escravidão e a formação da comunidade negra em São Paulo.
No acervo, que fica perto de sua casa, cerca de 300 crianças aprendem a história da comunidade negra. O trabalho, diz Sylvia, tem o objetivo de ajudar a acabar com o preconceito racial.

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