São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Estratégias de terapia genética buscam cura para Aids e câncer

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Embora formadas pelos mesmos radicais léxicos, não devemos confundir geneterapia com terapias genéticas, advertem Jack S. Cohen e Michael E. Hogan na revista "Scientific American".
Geneterapia é o processo que tenta inserir um gene normal em substituição a outro correspondente, porém defeituoso, visando corrigir ou substituir a proteína doente produzida pelo gene anormal.
Nas terapias genéticas, procura-se interceptar caminhos que levam à produção da proteína defeituosa correspondente ao gene.
A geneterapia foi anunciada com grande alarde e tem sido aplicada extensamente nos últimos tempos, mas perdeu um pouco de prestígio depois que se verificou que nenhum dos pacientes a ela submetidos voltou, por enquanto, à normalidade.
As terapias genéticas têm-se valido de duas vias alternativas para eliminar a ação do gene na produção da proteína doente -a estratégia tríplex e a do ácido ribonucléico (RNA) anti-senso, de que já tratamos noutra oportunidade.
Durante boa parte deste século, os químicos e biólogos moleculares têm procurado fabricar fármacos (drogas) que atinjam especificamente certos locais da proteína produzida pelo gene e têm obtido vários êxitos.
As proteínas assim atingidas sofreriam os efeitos dos fármacos, sem dano para a matéria vizinha.
Os trabalhos nesse sentido prosseguem, mas, em número crescente, os pesquisadores estão preferindo os caminhos alternativos das terapias genéticas.
Para compreender como funcionam esses caminhos inovadores, precisamos recordar por alto como se forma a proteína codificada pelo gene.
Todos sabem que o produto do gene é uma proteína específica, cujo código está inscrito no DNA (ácido desoxirribonucléico).
O primeiro passo dessa transformação é a transcrição que muda o DNA em RNA, que transcreve em letras correspondentes aos ácidos aminados (unidades da proteína) a estrutura que a proteína deverá ter. Essa transcrição ocorre dentro do núcleo celular.
Fora dele, em organelas do citoplasma chamadas de ribossomos, se passa a segunda fase do processo -a tradução- que estabelece a sequência dos ácidos aminados e, portanto, da proteína.
O pesquisador dispõe, pois, de duas vias para bloquear a sua operação: a da transcrição e a da tradução. A estratégia tríplex objetiva deter a produção da indesejada proteína pela inibição da transcrição de seu gene, o que se consegue adicionando uma terceira hélice (ou fragmento dela) à dupla hélice do DNA.
A estratégia do anti-senso adiciona mais uma hélice, ou fragmento dela, complementar à hélice única do RNA. Assim se impede o processo da tradução.

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