São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Estado quer tirar governador de residência vice-real na Austrália

The Independent
De Londres

ROBERT MILLIKEN
EM SYDNEY

O governo do Estado australiano de Nova Gales do Sul quer que o governador, representante da rainha Elizabeth 2ª, do Reino Unido, trabalhe em casa em regime de meio expediente e transforme a mais antiga residência vice-real do país em um "palácio do povo".
A iniciativa está sendo vista como mais um revés para a monarquia na Austrália e um passo significativo em direção ao regime republicano.
O plano radical anunciado por Bob Carr, o premiê trabalhista do Estado, prevê que o próximo governador, Gordon Samuels, um ex-juiz nascido no Reino Unido, viverá em sua própria casa, uma modesta residência situada perto do Pacífico, enquanto a grande mansão oficial, construída na época colonial para parecer com um castelo, será aberta ao público.
Monarquistas ultrajados exigiram a convocação do Parlamento estadual e de um referendo para ratificar a decisão. Para eles, o plano equivale à rainha ser expulsa do Palácio de Buckingham.
O premiê, ex-jornalista e republicano convicto, desconsiderou as acusações. "Queremos atualizar o papel do governador e torná-lo um pouco mais relevante à situação da Austrália no século 21. Não haverá retorno ao conceito antiquado do cargo de governador."
Os republicanos questionam o papel do governador-geral, representante nacional da rainha.
O primeiro-ministro australiano, Paul Keating, quer substituir o governador-geral por um presidente, até o ano 2001. Os seis governadores estaduais são resquícios da história colonial dos estados australianos no século 18 e início do século 19, na época ainda não federados. Se a Austrália como um todo optar pelo regime republicano, eles se tornarão supérfluos.
Carr provocou consternação entre os conservadores e tradicionalistas australianos. Nova Gales do Sul é o mais antigo Estado do país e o de maior população. A mansão do governador, conhecida como Casa do Governo, em Sydney, representa o lugar onde nasceram a tradições democráticas britânicas na Austrália. A rainha e outros membros da família real já se hospedaram ali muitas vezes.
A partir desta semana, a área em volta da mansão vai virar parque público, enquanto um comitê decide se a mansão será transformada em galeria de arte, sala de concertos ou centro cultural.
Um deputado trabalhista sugeriu que seja convertida num centro de vinhos, onde o público possa beber nos jardins -contrastando com as festas formais que abriga há mais de dois séculos.
Samuels, 72, que assumirá o cargo de governador em março, deixou claro que só o aceitou com a condição de que seja destituído da pompa e cerimônia antigas e reduzido a seus deveres constitucionais básicos, que incluem a abertura das sessões do Parlamento e o comparecimento a algumas cerimônias públicas.
Ele vai manter seu cargo de presidente da Comissão de Reforma Legislativa de Nova Gales do Sul. É a primeira vez que algum representante vice-real mantém algum cargo adicional.
Samuels vai continuar morando em sua própria casa, no subúrbio de Bronte, em Sydney, com sua mulher, a atriz Jacqueline Kott. Recentemente, o casal abriu sua casa aos jornalistas, que perguntaram onde a rainha se hospedará em futuras visitas ao país. Kott afirmou que terá prazer em receber a rainha em sua própria casa. "Temos um quarto de hóspedes muito simpático no jardim dos fundos."
Samuels tranquilizou os tradicionalistas, dizendo que, devido a seus cargos anteriores de reitor da Universidade de Nova Gales do Sul e juiz do Supremo Tribunal, está acostumado a tomar parte em cerimônias. "Sempre me vesti a caráter para trabalhar. Se fosse escrever minha biografia, o título seria 'Minha Vida Fantasiado'."

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