São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Palestinos se abstêm nas áreas de Israel

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Até 16h de ontem (12h em Brasília), uma maioria de palestinos havia deixado de comparecer às urnas em Hebron (35 km ao Sul de Jerusalém), cidade ainda ocupada por Israel, e também em Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como capital.
Não havia números oficiais, mas os observadores internacionais calculavam que apenas 35% dos 98.987 eleitores de Hebron haviam votado até essa hora. É o maior dos 16 distritos eleitorais em que votam pouco mais de 1 milhão de pessoas, no primeiro pleito da história palestina.
Havia também forte abstenção (calculada em 55%) na cidade de Jenin (127 quilômetros ao norte de Jerusalém).
Nessa cidade, três palestinos foram mortos anteontem pelos soldados israelenses contra os quais abriram fogo em um bloqueio na estrada. Os três eram militantes do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que se opõe ao processo de paz e às eleições.
A abstenção nessas áreas não parece representar uma rejeição ao processo de paz, mas protestos específicos e localizados.
No caso de Jenin, a abstenção, pela manhã, fora virtualmente total. Os eleitores só começaram a se dirigir às urnas depois do enterro dos três mortos.
A Comissão Eleitoral palestina informou que o comparecimento em Gaza, a primeira região entregue aos palestinos, já era de 70% ao meio-dia (8h em Brasília).
Na Cisjordânia, o outro pedaço do território palestino, de 35% a 65% dos eleitores haviam votado até esse horário, segundo a Comissão Eleitoral. Até 16h, não foram registrados incidentes sérios.
O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, um dos 650 observadores internacionais, chegou a fazer um rasgado elogio ao processo de votação. "Um dos mais organizados que já vi", disse.
Carter, na véspera, criticara a limpeza da campanha eleitoral, pela prisão de dissidentes e o pouco acesso aos meios de comunicação dos candidatos independentes e de outros partidos que não a Fatah, o grupo de Arafat.
Ontem, criticou o policiamento israelense, que considerou excessivo e intimidatório. Chegou a discutir com um policial, ao verificar que as forças israelenses estavam fotografando os eleitores.
Apesar de ser a primeira, a eleição parecia rotineira para os palestinos, com cenas comuns em todos os outros países de tradição democrática. Inclusive nos beijinhos que Iasser Arafat, líder palestino há mais de 30 anos, distribuiu às crianças ao chegar para votar.
Arafat, 66, que será certamente eleito presidente, quase perdeu o "kafieh", o turbante em xadrez branco e preto que foi símbolo palestino na luta contra Israel, na confusão que marcou sua chegada para votar.
Disse que a eleição representava 'à fundação do Estado palestino".
Ele e sua única adversária, Samiha Khalil, 72, militante feminista, seis vezes presa por Israel e contrária aos acordos de paz, votaram em Gaza.
Como os demais eleitores, depositaram na urnas duas cédulas: uma, branca, continha a lista dos candidatos ao Conselho de Autonomia de 88 membros, que será uma espécie de Parlamento.
A outra, avermelhada, era para a Presidência. A votação terminou às 19h (15h em Brasília).

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