São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Dois mundos

FERNANDO CANZIAN

SÃO PAULO - É inacreditável que uma cidade como São Paulo tenha proibido só na semana passada a discriminação entre cidadãos em elevadores sociais ou "de serviço".
Lei nesse sentido foi sancionada pelo prefeito Paulo Maluf no início da semana. Para quem quiser, ainda há tempo de ver em alguns prédios placas mandando que "empregados" usem apenas os elevadores de trás. Como se fossem cidadãos/trabalhadores de segunda classe de um mesmo país.
Se os EUA são politicamente corretos demais, o Brasil é de menos. Não há costume, moral ou gentileza que evite barbaridades discriminatórias por aqui.
Não se trata apenas de reserva de vagas para "minorias" em universidades, empresas ou no serviço público, como acontece nos EUA com a "lei afirmativa" -o politicamente correto levado à prática extrema.
Aqui é meio geral. Contra o dono do Fusca velho que quebra na avenida e atrapalha o trânsito ao negro em "atitude suspeita" no banco.
Na semana passada, a Justiça do Rio condenou uma empresa de segurança a pagar indenização de R$ 1 milhão à família de um vendedor negro morto nessas condições. É uma punição, mas não traz o sujeito de volta.
Voltando os olhos para os EUA, muita gente trata como ridículo o ponto a que chegou a norma do politicamente correto. E, realmente, parece meio ridículo.
A revista britânica "The Economist" trouxe artigo em dezembro contando que a nova onda é proteger os baixinhos. A revista diz que 90% dos executivos das cem maiores empresas citadas na revista "Fortune" têm altura acima da média. Outro estudo, feito pela Universidade de Pittsburgh, sugere que estudantes com mais de 1,85 m conseguiram empregos que pagavam 12% mais do que os de formandos mais baixos.
Agora, grupos pedem medidas para garantir direitos aos "verticalmente desfavorecidos". Realmente, parece algo ridículo. Mas não deve ser, já que se discute seriamente o assunto. Algo que está longe de acontecer por aqui, onde o politicamente incorreto prevalece até mesmo sobre o bom senso.

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