São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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O segredo de Covas

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Negócios obscuros são comuns no Brasil. O acordo do Banespa é um deles. Ninguém diz, por exemplo, que ao sanear o Banespa o governador Mário Covas ajudou cinco empresas estatais paulistas a limpar suas dívidas com o banco.
O Banespa, costuma-se dizer, tem R$ 15 bilhões para receber do governo paulista. É uma meia verdade. Cerca de R$ 7 bilhões dessas dívidas estão em nome de cinco empresas estatais paulistas: Metrô, Dersa, Ceagesp, Fepasa e Cetesb. O resto, de fato, é devido pelo Tesouro de Covas.
Todo final de ano, essas cinco empresas repetem um ritual sinistro, publicando balanços deficitários. A Dersa, por exemplo, deve mais de R$ 1 bilhão ao Banespa. A Ceagesp deve menos: só R$ 165 milhões. E por aí vai.
Com o acordo do Banespa, essas dívidas somem, magicamente, dos balanços das empresas. Passam para a conta do Tesouro estadual, que vai pagar em suaves prestações, ao longo de 30 anos -com juros subsidiados.
O Congresso, caso aprove o acordo, vai satisfazer duas veleidades de Covas. Sanear o Banespa e outras cinco estatais paulistas (Metrô, Dersa, Ceagesp, Fepasa e Cetesb).
O secretário do Planejamento de São Paulo, André Franco Montoro Filho, diz que isso não é vantagem. "A dívida sempre foi de São Paulo. Agora, sai das empresas e vai para o Tesouro", afirma.
Mais ou menos. Não é todo dia que cinco empresas são aliviadas oficialmente de uma dívida de R$ 7 bilhões. As empresas passam a ser saudáveis. Podem pedir empréstimo no exterior. Ou até serem privatizadas por um excelente dinheiro.
Enquanto isso, os contribuintes de todo o Brasil estarão bancando os juros subsidiados oferecidos por Fernando Henrique Cardoso a Mário Covas. Sim, porque o dinheiro para resolver tudo isso sai do governo federal.
Covas tinha outra opção. Em vez de passar o chapéu, poderia vender o Banespa e as cinco empresas estatais deficitárias. Fez diferente. E o governo FHC engoliu. E obrigou os contribuintes a fazer o mesmo.
Felizmente, o estrago maquinado por Covas ainda não está consolidado. Basta o Congresso recusar-se a aprovar o acordo. É difícil. Mas é possível.

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