São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Clube Militar quer fim da reserva ianomâmi

DA SUCURSAL DO RIO

Cerca de 60 oficiais da reserva das Forças Armadas fizeram ontem no Clube Militar, centro do Rio, um ato de desagravo ao brigadeiro Ivan Frota, proibido pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) de prestar depoimento sobre o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) na supercomissão do Senado que investiga o assunto, no último dia 16.
Na cerimônia, à qual a Folha teve acesso, os militares atacaram ACM e defenderam teses nacionalistas. O senador preside os trabalhos da supercomissão.
Procurado ontem pela Folha para comentar as críticas do brigadeiro e de seus colegas militares, ACM declarou que não pretendia se pronuciar sobre elas.
Durante a cerimônia no Clube Militar, foi aplaudida por todos a proposta do general da reserva Tasso Vilar de Aquino de que o governo adote outras providências para a segurança da Amazônia antes de implantar o Sivam, como a anulação da reserva dos ianomâmis, localizada em Roraima.
O ato foi presidido pelo general Hélio Ibiapina, candidato à presidência do Clube Militar. Estavam o deputado federal Jair Bolsonaro (PPB-RJ) e o general Newton Cruz, derrotado nas eleições de 1994 para o governo do Rio.
Ivan Frota coordenou os primeiros estudos do Sivam, entre 1987 e 90, quando era diretor de Eletrônica e Proteção a Vôo, do Ministério da Aeronáutica. Ele reiterou, com argumentos nacionalistas, suas críticas ao contrato entre o governo brasileiro e a empresa norte-americana Raytheon.
Segundo ele, o Sivam deveria ser montado por empresas e instituições brasileiras. Ele afirmou que o contrato com a Raytheon foi assinado "no apagar das luzes do governo Itamar Franco, por pressões dos Estados Unidos".
Bolsonaro disse que tem "divergências políticas" com Frota, mas que foi ao ato porque ACM "foi autoritário e não poderia ter proibido uma autoridade militar de falar em uma sessão do Senado para a qual foi convocado".
Newton Cruz disse que Frota foi vítima de "uma cachorrada" e que "aquele senador precisa ouvir alguma coisa".
Antes do ato de desagravo, Frota disse à Folha que ACM "tem uma personalidade maleável e oleosa".
"A nação fica vulnerável quando uma personalidade como a dele, que a nação inteira conhece, assume o destaque que ele tem. A história define a personalidade oleosa e maleável deste cidadão."
Segundo Ivan Frota, ACM "aceitou as benesses" do regime militar (1964-85) e "agora assume atitudes contrárias ao que antes ele tinha louvado".
Frota se referiu à decisão do senador de não deixá-lo depor alegando que ele (Frota) teria desmoralizado o Senado ao afirmar que senadores votariam a favor do governo em troca de benesses.
"É um indivíduo que se aproveita da situação para fazer proselitismo do passado em que foi beneficiado", afirmou Frota.
O brigadeiro disse que não vai mais enviar para o Senado o documento com suas críticas ao Sivam, pedido pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR).
"Não tenho mais contato com o Senado, principalmente com essa supercomissão. Seu presidente não merece a menor consideração", afirmou.

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