São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Covas não atende Rainha; MST ocupa outra fazenda

GEORGE ALONSO

GEORGE ALONSO; JOSÉ MASCHIO
DA REPORTAGEM LOCAL

JOSÉ MASCHIO
O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), decidiu ontem não receber o líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema (SP), José Rainha Jr., por considerar que o seu interlocutor na questão da reforma agrária é o secretário de Justiça, Belisário dos Santos Júnior.
Oficialmente, o governo alegou que o encontro não foi agendado.
Ontem de manhã, Rainha procurou marcar o encontro, com intermediação de Miguel Abeche, superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em São Paulo.
Nova invasão
Ontem, 732 famílias de sem-terra invadiram a fazenda São Domingos, em Sandovalina (no Pontal, 640 km a oeste de São Paulo) para pressionar Covas. É a quinta vez que a fazenda é ocupada desde o início de 1994.
Anteontem, o MST já tinha invadido a fazenda Santa Rita, com 350 famílias sem terra, em Mirante do Paranapanema. Foi a primeira grande invasão após o acordo de paz de 4 de novembro de 1995.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) acha que o governo paulista não cumpriu acordo verbal de assentar em lotes definitivos 1.050 famílias. Covas assentou as famílias em lotes provisórios no fim de 1995.
"Jogaram as pessoas no pasto como bois, sem água, sem nada", disse Edivar Lavratti, dirigente estadual do MST. "Não brincamos de invadir, porque isso desmoraliza o movimento. Mas o governo não apresentou plano para implantar infra-estrutura", afirmou Rainha. O governo Covas afirma que a infra-estrutura está sendo posta.
O MST pretende invadir ainda a fazenda Flora, vizinha à São Domingos. A tática dos sem-terra é ocupar e plantar. A decisão de não acampar na área invadida visa dificultar a ação de reintegração de posse pelo proprietário.
O Incra informou que, com a invasão, ficam suspensas as negociações para a compra dessas propriedades e mais a fazenda Santa Irene (ao todo, 7.000 hectares de terra fértil), para assentar 600 famílias em lotes definitivos.
"Com a área invadida, decreto me impede de continuar a negociar", afirmou Abeche. Segundo ele, "se a documentação for boa", até março as três fazendas serão usadas na reforma agrária. O Incra só tem feito assentamentos com lotes definitivos.
Rainha acabou admitindo que a invasão da São Domingos foi uma retaliação. "Entramos por uma questão política com o Estado."
Rainha quer a troca dos dirigentes do Itesp (Instituto de Terras de São Paulo), que não estariam "falando a mesma língua" de Covas.
"Eu não decido com quem falo do MST e eles não decidem a minha equipe", rebateu Belisário Jr..
Ajuda petroleira
O presidente do Sindicato dos Petroleiros de Santos, Averaldo Menezes, confirmou ontem que o sindicato apóia o MST. Mas o sindicato negou que quatro carros da entidade tenham ajudado o MST a invadir a fazenda Santa Rita.
A polícia mantém apreendidos seis veículos, entre eles o Monza de Moisés José da Silva, diretor do Sindipetro santista.
O MST e os petroleiros têm mantido cooperação mútua desde a greve nacional dos petroleiros em maio. À época, o MST arrecadou 500 kg de alimentos para os operários que tomaram a Refinaria Presidente Bernardes (Cubatão).
Quando a prisão preventiva de Rainha foi decretada em outubro passado, Menezes era uma das poucas pessoas a manter contato com o foragido líder do MST.
No país, o "janeiro quente" do MST já resultou em 16 invasões em 23 dias, por 6.542 famílias.

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