São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Parecer critica a aquisição da Kolynos

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Colgate sofreu a primeira derrota na tentativa de aprovar no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a compra da Kolynos, por US$ 780 milhões, negócio feito no ano passado e contestado por empresas concorrentes.
Um parecer elaborado pela Secretaria de Acompanhamento Econômico, órgão do Ministério da Fazenda, faz críticas à Colgate por suposta formação de monopólio no mercado de creme dental.
Embora não recomende abertamente a dissolução do negócio, o documento conclui que a fusão das duas empresas "não traz benefícios à concorrência".
Segundo o parecer da Secretaria de Acompanhamento Econômico, a compra da Kolynos garantiria à Colgate controle de 79% do mercado de cremes dentais no Brasil.
Lei
A Lei Antitruste brasileira prevê que negócios entre empresas que resultam em domínio superior a 20% do mercado devem receber aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Eles só são aprovados se criarem benefícios aos consumidores.
A aquisição da Kolynos deverá começar a ser julgada pelo Cade no mês que vem, quando termina o recesso do conselho.
Atualmente, o caso está sendo investigado pela SDE (Secretaria de Direito Econômico), órgão do Ministério da Justiça, que elabora um outro parecer sobre o negócio.
"Queremos enviar nossas conclusões tão logo os conselheiros voltem do recesso", disse à Folha o secretário de Direito Econômico, Aurélio Wander Bastos, que investiga o caso há 11 meses.
Compra
Em janeiro de 1995, a Colgate comprou a divisão de produtos de higiene pessoal da Anakol, proprietária da marca Kolynos, que atua em 14 países.
A Procter & Gamble, que também tinha interesse na compra da Kolynos, entrou com um pedido de investigação na SDE. A Procter acusa a Colgate de pagar o equivalente a três vezes o preço da empresa.
Antes do negócio, a Kolynos detinha 51% do mercado de cremes dentais -e a Colgate, outros 28%. Juntas, as duas empresas passaram a controlar 79% desse mercado.
A Gessy Lever responde por 20% das vendas do setor. O 1% restante é dividido pelos demais cremes dentais -incluindo a Procter, que importa a marca Crest, líder de vendas nos Estados Unidos.
A Procter sustenta que tem interesse em produzir a Crest no Brasil, mas o suposto monopólio da Colgate impediria a entrada de concorrentes.
Marcas
"O caso Kolynos deverá ser analisado sob o ponto de vista de marcas, e não do produto em si", afirmou a conselheira do Cade Neide Teresinha Malard.
Ela disse que, em tese, qualquer empresa pode produzir cremes dentais no país, pois o investimento na construção de fábricas é pequeno. Mas, segundo ela, não adianta criar novos produtos se eles não encontram espaço no mercado.
"O Cade deverá analisar o investimento em publicidade necessário à criação de uma nova marca de cremes dentais, além da possibilidade de colocar os produtos nos pontos de venda", afirmou.

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