São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Dupla Io-Io naufraga no 'efeito tequila'

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a ressaca da tequila (você já notou que o Brasil anda vivendo um processo de "cucarachização", na bebida, nas músicas, nas novelas mexicanas nas TVs pagas?) não emagrece nem um pouco a minha simpatia pelos canarinhos novos que cantam na gaiola do velho Lobo do fut Zagallo.
Assim como na economia do país, o chamado "efeito tequila" foi fundamental para os reajustes internos (não sei se corretos) do Plano Real, a derrota para a seleção mexicana na final da Copa Ouro também poderá ser bastante útil para o time cujo objetivo final é conquistar a Olimpíada, na modalidade futebol.
Mas, antes de entrar nessas considerações, gostaria de chamar a atenção para dois aspectos que influíram no andamento do jogo, embora o resultado final tenha premiado o time que melhor se adaptou às condições de hora e local, no caso, a seleção, para dizer assim, cucaracha.
Em primeiro lugar, o campo parecia querer homenagear os selecionados que caminhavam sobre a sua possível relva.
Como diria o flamenguista Hebert Vianna, alagados total. Favela da maré. De certo modo, o time brasileiro, mais técnico, mas também mais leve, sem pneu lameiro e tração nas quatro rodas, sofreu um pouco mais (sorte do México, que se aproveitou bem desse expediente).
Em segundo lugar, o árbitro trinitino Ramesh Ramadhan não foi suficientemente vigoroso para conter a exaltação de ânimos normal em uma final desse naipe.
Mais uma vez, um item que desfavorecia a teenbolada brasileira, mais fogosa, mais caloroso, testosterona a mil, na sua jovem van-guarda. Outro recurso que, em campo, os jogadores mexicanos souberam aproveitar muito bem.
Acho também que o velho Lobo criou uma "situação egípcia", como diria velho e caro fluminense Cyro Monteiro, um paradoxo para ele mesmo: exagerou na cautela. Conteve o meio-campo mais do que necessitava, deixando a dupla Io-Io (Caio e Sávio) tão solitária quanto a Billie Holiday naquele clássico da canção.
Talvez a vaga do operario-Arílson possa ser preenchida por um jogador mais arquiteto, mais criador de situações de finalização para o ataque. Talvez o Amaral, muito preso junto à lateral direita, também possa desempenhar outras funções. Talvez um zagueiro mais experiente possa dar mais segurança ao backstage.
Mas, no saldo da conta corrente da teenbolada, o time ainda está no azul. Com as pitadas de vinhos mais envelhecidos que poderão ser acrescentadas, as perspectivas de uma classificação para a Olimpíada são promissoras.
Como capítulo à parte, o duelo entre o Lobo Zagallo e a raposa Bora Milutinovic, a quem o futebol na América do Norte deve muito, esteve à altura desses veteranos estrategistas do fut.
Por fim, o título fez justiça a um jogador que aprendi a admirar na Copa de 94, e que, de vez em quando, revejo nas transmissões internacionais de futebol: o meio-campista Garcia Arce, que encontrou no raçudo e rápido atacante Blanco ótimo complemento para seu futebol.

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