São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Gerry Mulligan morre aos 68 nos EUA

RUY CASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A morte do saxofonista Gerry Mulligan sábado último, aos 68 anos, em sua casa de Darien (Connecticut, EUA), representa para o jazz o que seria a morte de um dos últimos pandas no mundo animal. Desfalca uma grande geração de músicos que, em fins dos anos 40 e nos anos 50, reescreveu -para melhor- a cartilha do jazz.
A Mulligan se devem várias revoluções que se costuma atribuir a outros. Uma delas, a do "cool jazz". Foi ele, aos 21 anos em 1948/1949, a verdadeira força por trás do noneto de Miles Davis nas gravações de Capitol batizadas de "The birth of the cool". Milen era a estrela do conjunto, mas o principal inspirado, compositor, arranjador e músico do noneto chamava-se Gerry Mulligan.
O "cool jazz" nasceu para suavizar os excessos do bebop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie e influenciou toda uma geração de arranjadores, músicos e cantores da década seguinte. Essa influência viria carambolar inclusive no Brasil, "esfriando" o samba para criar a bossa nova.
Em 1952, Mulligan lançou Chet Baker, cujo sucesso como cantor e trompetista extrapolou as fronteiras sempre modestas do jazz. Mas Chet era apenas um empregado de Mulligan naquela extraordinária série de discos para a gravadora Pacific Jazz. Mulligan passou um ano preso em 1953/1954 por uso de heroína. Ao sair da prisão, livre da droga, mais falido e alquebrado, tentou reorganizar o quarteto com Baker. Mas este pediu o dobro do salário e Mulligan substituiu-o pelo trombonista Bob Brookmeyer. O quarteto continuou extraordinário e Mulligan passou anos sem falar com Baker.
Em 1960, quando se julgava que a era das orquestras estava sepultada para sempre, Mulligan surpreendeu de novo ao criar a Concert Jazz Band, com quinze músicos de primeira, entre os quais Brookmeyer, o sax tenor Al Cohn e o trompetista Clark Terry. Mulligan tinha horror a rótulos. Tocou com jazziztas de todos os estilos e aproximou-se tanto do tango quanto da bossa nova (foi um dos grandes amigos de Tom Jobim em Nova York). Seu instrumento, o sax barítono, era ingrato para solos, mas ele o tornou tão flexível e expressivo que a audição de qualquer um de seus discos sempre foi e será um exercício de inteligência e prazer.

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