São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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'Zelly e Eu' herda o pior de David Lynch

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Zelly e Eu", exibido na madrugada de hoje pela Globo (1h10), poderia ser usado como o paradigma-no sentido negativo do termo- dos chamados "filmes psicológicos".
Para contar o relacionamento de uma babá e uma menina, a diretora Tina Rathborne mergulha nas obras completas de Freud: uma garota é mimada pela avó porque não possui mais seus pais. Assim, passa a amar sua tutora como uma mãe.
A mesma mulher melancólica, possuidora de uma intensa paixão pelo empregado de uma casa vizinha. Um homem que, por sua vez, não consegue definir claramente os sentimentos que possui por qualquer ser humano.
A diretora Rathborne é uma protegida do cineasta David Lynch, que aparece no filme fazendo uma ponta como ator, no papel do indeciso mordomo.
E parece herdar dessa influência o mesmo desejo de ver o mundo e as pessoas que o habitam como sintomas de uma desordem, de uma doença incurável.
O universo de Lynch, na maneira que é mostrado em seus filmes, parece ser habitado por uma população de esquizofrênicos.
"Zelly e Eu" possui, portanto, os mesmos maneirismos da obra em que se apóia. Mas é verdade que há no filme de Rathborne uma vontade de trilhar caminho contrário no mesmo terreno: ela procura dar veracidade aos seus personagens, enquanto Lynch procura explicitamente o artificialismo.
E há também Isabella Rosselini, que sofre do pecado original de ser filha de Ingrid Bergman. Uma atriz que sempre teve sua capacidade de interpretar colocada em dúvida. Um pouco em nome de sua beleza assustadora. Um rosto e um olhar que tomam todos os espaços.

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