São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Central de confusões

JANIO DE FREITAS

Na qualidade de presidente da CUT, Vicentinho tinha encontro ontem, em São Paulo, com o ministro do Trabalho e com o presidente da Fiesp, Paulo Paiva e Carlos Eduardo Moreira Ferreira, para discutir possíveis providências que contenham a onda de demissões. Mas tomou o avião para Brasília, ao encontro de parlamentares ditos da oposição. E explicou:"Eu me confundi. Pensei que o encontro com o ministro fosse em Brasília." Neste caso, pensou também que a Fiesp fosse em Brasília.
Ou não pensou uma coisa nem outra -simplesmente deu preferência à tentativa de voltar ao acordo com a dita oposição, à custa do desacordo com o governo e depois de preparado o terreno pela matéria-paga que fez publicar em jornais de ontem mesmo.
Vicentinho anda muito confuso, sim. A matéria-paga por ele assinada concretizou a quarta virada de posição da CUT (ou seria só do seu principal representante?) em sete dias. Vicentinho iniciou a semana passada com a adesão, tornada pública de imediato, à aposentadoria por tempo de contribuição, que ele e a CUT repeliam. A reação de parlamentares e oposicionistas levou-o a negar o acordo, com a mesma rapidez para fazê-lo, agora alegando que apenas se tratava de "continuidade de negociações".
Logo chamado a uma celebração do acordo no Planalto, Vicentinho fez com o presidente Fernando Henrique uma alegre cena de confraternização, a que não faltaram gozações nos críticos de suas concessões afirmadas, negadas e reafirmadas. Para completar o ciclo (até agora), já o primeiro ponto da matéria-paga volta à defesa da aposentadoria por tempo de serviço, negando outra vez o acordo. É o que faz, também, o restante do texto, em relação a outros aspectos das intenções governamentais.
São desnecessários novos capítulos da novela para concluir-se que a CUT e Vicentinho perderam as condições morais, além de outras que já não tinham, para insistir em manifestações nacionais hoje e em greve no dia 30, como protestos contra os termos atuais da reforma previdenciária. Tudo o que podem obter é o aumento do desemprego, pelas reações de empregadores rígidos contra possíveis abandonos do trabalho para protestar.
A comissão de parlamentares que discute a Previdência proporcionou, com o novo embananamento em que entrou ontem, um tempinho para a CUT e a dita oposição começarem do zero a repensar suas posições e atitudes. Se isso não for possível, o melhor que têm a fazer é recolher-se à sua incapacidade e, assim, pelo menos não tornar mais injustas as injustiças da Previdência eivada de crimes.
Correção nominal
No artigo "Queima de arquivo", que ontem noticiou a decisão de destruir documentos relativos à importação, neste momento em que se revelam fraudes estimadas em R$ 600 milhões, cometi o erro de dar Paulo César Samico como funcionário do Banco do Brasil. O equívoco se deu porque o Departamento de Comércio Exterior, do Ministério da Indústria e Comércio, utiliza funcionários do Banco do Brasil, cedidos por empréstimo e absurdamente pagos pelo banco. Samico os chefia, mas não é um deles, é funcionário do MIC.
Já a inexistência de documentos a serem eliminados, que Samico me referiu para negar a ordem de eliminação, registro-a por dever de ofício. Seu argumento é de que o Banco do Brasil recebe os pedidos de importação, manda-os à análise do Decex e os recebe de volta, com a obrigação de guardá-los por 20 anos. Não haveria, pois, documentação a ser eliminada na Decex.
Há. As guias de importação são transmitidas pelo BB ao Decex por via eletrônica e impressas, para exame, no seu destino. O retorno é dado ao BB também por via eletrônica, mas as folhas impressas não são remetidas: pertencem ao Decex e com ele ficam, até por terem as primeiras vias ficado com o BB. E estas folhas foram o objeto da decisão de eliminá-las, transmitida em reunião - ou seja, com testemunhas- no final da sexta-feira passada. Já com uns dez dias de revelações sobre as fraudes na importação de automóveis.

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