São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Governo tenta evitar o atraso na aprovação

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os governos de São Paulo e federal deflagaram, nos últimos dois dias, uma operação-salvamento para o acordo do Banespa. A primeira providência foi unificar o discurso.
Na versão de técnicos do governo de São Paulo ou de assessores de Fernando Henrique Cardoso, não há nada de errado em cancelar uma dívida de R$ 7 bilhões de empresas estatais paulistas.
O valor equivale a cerca de cinco projetos Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, afirma que "ninguém emprestaria a essas empresas sem o aval do Tesouro paulista. As dívidas, portanto, já eram do Estado".
"Quando contraíram os empréstimos, já estava implícito que o Tesouro iria pagar", diz o secretário do Planejamento de São Paulo, André Franco Montoro Filho.
No Banco Central, a avaliação é que o governador paulista, Mário Covas deveria defender abertamente o cancelamento das dívidas das suas estatais -pois isso já foi acertado com o governo federal.
O senador Pedro Piva (PSDB-SP), vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e provável relator do acordo do Banespa, disse ontem que o acordo era "o possível" para São Paulo.
Segundo Piva, as empresas saneadas ficarão em melhor situação para serem eventualmente privatizadas por Covas.
Segundo a Folha apurou, não estava nos planos de Covas a ênfase sobre o saneamento em empresas estatais paulistas que o acordo do Banespa estaria gerando.
O temor de Covas é que outros governadores passassem a exigir o mesmo do governo federal. Como o acordo do Banespa precisa ser aprovado pela Assembléia Legislativa de São Paulo e pelo Senado, durante esse tempo cresceria a oposição ao que foi acertado.
Na realidade, o acordo do Banespa é uma das mais bem elaboradas peças de engenharia financeira. Quase todas as dívidas ruins de São Paulo serão reestruturadas.
Covas está limpando completamente de seu horizonte dívidas antigas que consumiam todas as receitas de suas estatais. Agora, sem as dívidas, o governador ficaria livre para fazer com suas estatais o que bem entender -profissionalizar a administração, investir ou, até mesmo, privatizá-las.
Não há, entretanto, uma garantia de que Covas vá mesmo vender as estatais depois de saneadas.
Quando a Folha divulgou, no domingo, o detalhe do acordo do Banespa sobre as empresas estatais, Covas perdeu o humor e ficou preocupado com uma reversão de expectativas.
Voltou, agora, com mais força entre os técnicos do governo, a tese de que seria mais prático implantar o acordo do Banespa por meio de MP (medida provisória).
No Senado, o clima é cada vez pior. As chances de o acordo vingar dependem da capacidade dos governos paulista e federal convencerem os parlamentares que, apesar de as estatais de Covas ficarem livres de R$ 7 bilhões de dívidas, não há nada de errado nisso.

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