São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Professores criticam vídeo de programa educativo

FERNANDO ROSSETTI
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DE MIPIBU

A coordenadora do programa Universidade Solidária, Ruth Cardoso, e cerca de 20 estudantes e professores universitários fizeram ontem a primeira avaliação do projeto piloto iniciado no dia 21.
O Universidade Solidária é um programa que leva universitários a regiões pobres do país para realizar trabalhos educativos -este ano, na área de saúde e planejamento familiar (leia quadro).
Ontem, Ruth Cardoso visitou o grupo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS) que está trabalhando em São José de Mipibu (RN). Ela estava acompanhada dos ministros da Educação, Paulo Renato Souza, e da Saúde, Adib Jatene.
Na reunião de avaliação, que também teve a presença de estudantes da Universidade Católica de Pelotas (RS) -que estão em Ares (RN)-, Ruth Cardoso ouviu críticas como a inadequação do material didático usado no programa piloto e a falta de preparação da população local para os cursos.
O vídeo do curso de Saúde e Sexualidade na Adolescência, por exemplo, tem linguagem rápida, utiliza muitas gírias (cariocas) e é voltado para jovens urbanos.
Só que os estudantes estão em regiões rurais, onde garotas de menos de 12 anos ficam grávidas e, aos 20 anos, muitas já tiveram mais de cinco filhos.
"Esse vídeo não se adapta a esta realidade. Vamos ter que improvisar no curso", afirmou o professor responsável pelos estudantes da UFSM, Mário Bonfada, 38.
"Os vídeos estão muito longos, teriam de ter no máximo dez minutos, para dar para fazer uma discussão com a turma", disse o professor da UCPEL, Antonio Carlos Guarienti, 43.
Ruth Cardoso, que exigiu que a reunião de avaliação fosse a portas fechadas, considerou que esses problemas podem ser sanados em fases posteriores do programa -para isso é que está fazendo a avaliação do projeto piloto.
O ministro Paulo Renato Souza disse que "os estudantes conseguiram solucionar esses problemas com improvisação, o que faz parte da aprendizagem do programa".
Quando chegaram a São José de Mipibu (38 km ao sul de Natal), na sexta-feira, o grupo de 10 estudantes e um professor da UFSM perceberam que ninguém sabia que ocorreriam cursos na região.
"No sábado, fomos para a feira da cidade, onde vai muita gente, e fizemos um teatro: primeiro alguém simulava um desmaio no meio da multidão e depois nós fazíamos o atendimento daquela pessoa", conta a estudante de administração Adriana Porto, 24.
Primeiros socorros é um dos temas dos cursos. Os estudantes já montaram, até ontem, nove turmas em diferentes comunidades rurais da região. Após a reunião e um almoço, a equipe coordenadora do programa voltou a Brasília.

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