São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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"O Perfume de Yvonne" confunde drama com vulgaridade publicitária

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Até pouco tempo, um dos passatempos prediletos dos cadernos de cultura era identificar o verniz publicitário, pretensamente vanguardista, com que os cineastas franceses tingiam seus dramas envoltos em fumaça e problemáticas existenciais. Hoje, os chamados "filmes de arte", confundem-se de tal forma com os clichês da propaganda que essa prática perdeu sua força explicativa.
Apesar do desgaste da fórmula, é muito provável que "O Perfume de Yvonne", de Patrice Leconte ("O Marido da Cabeleireira"), seja herdeiro dessa mesma tradição, por assim dizer, cosmética.
O que incomoda no filme não é tanto a falta de assunto, a banalidade generalizada, mas a pretensão de criar uma atmosfera de falsa densidade, muito ao gosto da nossa época, como se o grande desafio de Leconte fosse agradar aquele público cativo das mostras de cinema que costuma torcer o nariz para Hollywood.
Abusando do paralelismo, "Perfume de Yvonne" é uma espécie de versão francesa de "Perfume de Mulher". No lugar do drama sentimental, preocupado em prestar contas à mentalidade politicamente correta, um filme encharcado em melancolia, banhado pelo tédio existencialista e repleto de alusões a uma sensibilidade virtualmente aristocrática, inexistente na época em que se passa o filme.
Estamos em 1958. Victor (Hippolyte Girardot) é um jovem desocupado de família nobre que, de passagem por um hotel na fronteira da França com a Suíça, conhece Yvonne (Sandra Majani), aspirante a atriz, arrivista, bonita e irresistivelmente pueril.
O par romântico que logo se forma vive aventuras ao lado de René Meinthe (Jean-Pierre Marielle), um senhor homossexual e excêntrico que gasta seu tempo entre festas e restaurantes, frequentando toda espécie de mundanidades.
Relembrando, depois de anos, aquele verão de 58, Victor, desiludido, tem repentes literários do tipo: "Olhares...uma cigarreira, uma echarpe verde. Dias felizes que a memória revive numa cronologia incerta".
É este sub-proustianismo, entrecortado pelo efeito narcótico de paisagens bucólicas, luzes difusas, tons pastéis e closes de peças íntimas que dão a "Perfume de Yvonne" um ar postiço e o aproximam da vulgaridade publicitária.

Vídeo: O Perfume de Yvonne
Direção: Patrice Leconte
Elenco: Hippolyte Girardot, Sandra Majani
Distribuição: Alpha Filmes: tel. 011/230-0200

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