São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Robert Redford boicota filmes de violência

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE PARK CITY

O ator norte-americano que instituiu o Sundance Film Festival, Robert Redford, declarou o boicote do seu festival aos filmes de violência.
Em entrevista no último sábado, durante recepção oferecida aos diretores selecionados para o Sundance, o ator disse que os filmes deste ano deveriam ter "uma história para contar".
Reagindo contra a falta de mercado para o cinema independente, Redford anunciou também que em fevereiro próximo vai inaugurar o Sundance Channel em rede nacional americana, pelo sistema DSS (Digital Satellite System).
O canal vai transmitir 24 horas por dia filmes americanos e estrangeiros independentes.
Apesar do caos da nevasca contínua em Park City, todas as sessões do festival têm sido lotadas.
"Jenipapo", de Monique Gardenberg, "Terra Estrangeira", de Walter Salles, e o curta "Amor!", de José Roberto Torero, têm sido aplaudidos com entusiasmo a cada exibição.
Sobre a inclusão de filmes de oito países latino-americanos na seção World Cinema, Redford tinha elogios especiais em meio a outras generalidades que explicam todo o seu "bom-mocismo".
"A América Latina tem uma boa tradição na arte narrativa. Tenho o cuidado de desconfiar de filmes exageradamente baseados na tecnologia porque ela pode servir para manipular o interesse do público."
Sobre o cinema independente, Redford faz suas considerações: "Prefiro filmes que não dependem de estrelas ou de dinheiro e que me tragam informações culturais. Um festival deve estar sempre atento sobre o que se passa no mundo. Quando a União Soviética vivia a 'Perestroika' nós estávamos lá ajudando a promover as idéias dos seus cineastas. 'O Balão Branco', do Irã, é mais um exemplo de filme que assume riscos. E é a filmes assim que nós damos oportunidades."
Ele sabe que o movimento que provocou precisa ser orientado de perto para não sofrer distorções: "O interesse pelos independentes aumenta a cada ano e agora todo mundo quer estar no 'show business'. E o Sundance Institute está aqui para ajudar filmes e realizadores que assumem riscos. Mas como dizer aos novos talentos para não cair nas tentações dos grandes estúdios?", diz.
"Eu digo para que sejam prudentes porque Hollywood é um negócio sólido, não é arte. É isso que fazemos em nossos laboratórios para prepará-los, especialmente para o sucesso. Pois com o sucesso começa o perigo que é trocar um orçamento de 25 mil dólares por orçamentos de três milhões de dólares. Com os orçamentos milionários de Hollywood começam os problemas que a paixão e a convicção não resolvem."
Redford alerta também para o perigo das novas tecnologias a serviço do cinema: "As novas tecnologias que facilitariam nossas vidas, na verdade servem para dizer que tempo é dinheiro. Ainda não há nada melhor do que manipular o seu próprio material numa mesa de edição pelos recursos convencionais. Novas tecnologias também fazem dos atores uns robôs. Filmes independentes aumentam as oportunidades para os atores representarem papéis reais. Eu também sou ator e diretor e não gosto de me sentir manipulado.
A retrospectiva que o festival dedica ao veterano cineasta William A. Wellman -que dirigiu mais de 75 filmes em 35 anos de carreira- é um ótimo exemplo para a nova geração de cineastas, segundo Redford.
"Wellman não é um cineasta acadêmico como muitos da sua geração. Do cinema mudo ao cinema sonoro, ele ajudou muitos pioneiros a definir o que hoje se conhece como linguagem de cinema. A grande virtude de Wellman é ter sido um grande observador das experiências de vida. E é isso que eu estou interessado em transmitir às novas gerações. Não quero que a paixão dele vire 'fashion'. Para mim o próximo passo a dar é dominar mais os mecanismos da distribuição. O nosso canal de televisão vai aumentar a oportunidade para o cinema independente."

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