São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Bomba-relógio

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Está cada vez mais difícil aprovar a emenda constitucional da reeleição neste ano. O PPB concluiu que isso é inviável. O PFL é contra e o PMDB é aquele monte de opiniões divergentes que já se conhece. O PSDB, partido do governo, é o único voto certo.
Se a reeleição tivesse sido aprovada no final de 95 -ou até agora-, serviria para os atuais prefeitos em 3 de outubro. FHC, que tem interesse no assunto, teria muito aliados para fazer a tese passar no Congresso agora.
Como parece ter ficado mesmo para o ano que vem, a emenda da reeleição passa a ser um pesadelo com hora marcada para FHC. Uma bomba-relógio com componentes altíssimos de atração de fisiologismo.
A frase de uma pessoa que estava interessadíssima na reeleição de prefeitos define o que vai acontecer: "Neste ano, a reeleição sairia barato para o presidente. Em 97, vai ser um negócio de compra e venda."
Em 97, quando o governo pretende trabalhar a reeleição, não haverá mais interesse de prefeitos. Muito menos dos que serão eventuais candidatos a presidente em 98 -os caciques partidários. José Sarney (PMDB), Paulo Maluf (PPB), Marco Maciel e Luiz Eduardo Magalhães (PFL).
Além disso, votar a favor da reeleição de presidente no ano que vem significará já estar votando em FHC para 98. Quem votar a favor da eleição exigirá, obviamente, uma contrapartida.
É claro que tudo vai depender de como estará a popularidade de FHC e de seu Plano Real. Carlos Menem, presidente da Argentina, usou o slogan "No hay mejor" (não há melhor) para conseguir a sua reeleição. É uma estratégia que certamente será imitada por FHC. Mas, para isso, precisará manter a economia nos eixos.
Ainda assim, com tudo no país funcionando, será difícil para FHC arrancar do Congresso a sua reeleição sem discutir concretamente -um eufemismo para divisão de cargos, fisiologismo.
Por isso tudo, talvez fique mais fácil compreender porque FHC relute em reformar o seu ministério agora -apesar das pressões dos aliados.
Parece que, na cabeça do presidente, a moeda de troca que representa um cargo de ministro seria mais bem usada na hora de negociar o principal: a possibilidade de ficar mais quatro anos no poder.

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