São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Acordo nuclear Brasil-Índia preocupa EUA

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Ao demonstrar interesse pelo intercâmbio nuclear com a Índia, o presidente Fernando Henrique Cardoso inquietou os Estados Unidos, cujos diplomatas se esforçam em reduzir a corrida armamentista na região asiática.
Segundo apurou a Folha, o Departamento de Estado em Washington pediu à sua embaixada em Brasília um relatório sobre os possíveis projetos nucleares entre Brasil e Índia.
Índia e Paquistão vivem em estado de beligerância e qualquer movimento que possa induzir a suspeitas de aumento do poder bélico produz tensão.
Uma das zonas da Índia (Caxemira) é cenário de, no mínimo, 20 mortes por dia, devido ao movimento de independência, apoiado pelo vizinho Paquistão.
Está na Índia o ministro Ronaldo Sardenberg, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a quem o programa nuclear brasileiro é subordinado. Também vieram altos funcionários da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
A exemplo dos indianos, o Brasil não assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), exigido pelos Estados Unidos. O Brasil tem abundância de urânio, elemento básico para produção de uma bomba e a Índia dispõe de tecnologia e cientistas com amplo conhecimento em energia nuclear.
Ao chegar ontem em Nova Déli, o presidente Fernando Henrique Cardoso tentou afastar as suspeitas. Reafirmou que o Brasil tem interesse em intercâmbio sobre energia nuclear, mas "apenas para fins pacíficos".
Disse que, apesar de o Brasil não ter assinado o TPN ("impede o desenvolvimento científico"), submete-se a acordos que garantem a transparência. No caso, são os tratados com a Argentina, que asseguram inspeções recíprocas.
"A Índia tem muito conhecimento nuclear que nos interessa", afirmou FHC, assegurando que, por enquanto, qualquer troca está no nível de debate entre os cientistas dos dois países.
Também na comitiva, o ministro da Ciência e Tecnologia, o físico Israel Vargas -que há várias décadas mantém contatos com cientistas indianos-, disse que se desenvolveram na Índia conquistas no uso nuclear na geração de energia, genética (produção de alimentos) e medicina.
"Claro que temos interesse em usufruir desse conhecimento", acrescentou. Os indianos desenvolveram pesquisas sobre a utilização do tório, elemento mineral capaz de gerar combustão a partir da energia nuclear. O Brasil tem abundância deste mineral. "Temos interesse em ver como esse mineral pode ser utilizado", afirmou Fernando Henrique.

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