São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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MST diverge sobre estratégia política

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)

A direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) começou a discutir ontem, em Salvador (BA), como intensificar -com ações de impacto- a luta pela reforma agrária no país sem perder apoio na opinião pública.
O MST admite que há divergências internas sobre as formas de pressionar o governo, ainda que sejam bem diferentes dos "rachas" do PT. Hoje, alguns apostam na força de uma sequência de invasões e outros buscam sugerir maneiras alternativas (mais leves e "criativas") para obter apoio nos centros urbanos.
Para os sem-terra, o governo iniciou o ano tentando jogar a opinião pública contra o MST e é preciso evitar essa manobra.
"Não há divisão. O que existe são opiniões diferentes sobre como caminhar. Mas o que for decidido será feito unitariamente", disse ontem Gilmar Mauro, da direção do MST.
Trégua
Entre as táticas para 1996, além de ocupar terras e órgãos públicos, serão debatidas a realização de marchas às capitais e bloqueios a rodovias. Outra grande meta do MST é conseguir apoio dos prefeitos de pequenas e médias cidades, cujas economias estão se esvaziando, na avaliação dos sem-terra.
Neste ano eleitoral, o MST também deve incentivar a candidatura de assentados a cargos públicos no pleito municipal de 3 de outubro. "Assentados vão sair candidatos a vereador em São Paulo, Santa Catarina, Paraná", afirmou Mauro.
Hoje, quando começa efetivamente o encontro, o presidente do PT, José Dirceu, vai participar da discussão sobre a conjuntura política e agrária do país. Embora o MST tenha autonomia em relação ao partido, a relação entre petistas e sem-terra é estreita.
Gilmar Mauro também anunciou ontem que o MST vai tomar a iniciativa de procurar o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, para agendar uma audiência no Palácio do Planalto, depois do encontro de Salvador.
"Ela será feita por meio do Memorial da Reforma Agrária. Vamos todos juntos", disse ele. O memorial reúne, além dos sem-terra, PT, CUT, Contag, CNBB, OAB e partidos de esquerda, como PC do B, PSB e PDT.
Desse modo a maior entidade de agricultores sem terra tenta somar forças e evitar o "efeito Vicentinho" no episódio do acordo da Previdência Social.
O encontro em Salvador, aberto oficialmente às 20h, vai debater ainda a formação de novos quadros, as fragilidades internas do MST e eleger os novos 21 integrantes da direção nacional.

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