São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Para intelectuais, visão de 'povo trabalhador' começa a desabar

FERNANDO DE BARROS E SILVA

ESPECIAL PARA A FOLHA

São Paulo, terra do trabalho; paulista, povo trabalhador. Esses dois clichês complementares, alimentados e repetidos durante décadas, começam a desabar.
É isso, pelo menos, o que concluem alguns intelectuais ouvidos pela Folha sobre a pesquisa do Datafolha.
Diante da pergunta: "qual a primeira coisa que vem à cabeça quando se fala em paulista?", a resposta de 39% dos entrevistados foi "não sei". Só 13% disseram "povo trabalhador".
Números sintomáticos, na opinião do sociólogo Reginaldo Prandi, professor titular do Departamento de Sociologia da USP. "A idéia de que São Paulo é o lugar da grande promessa está desgastada. Hoje as pessoas preferem ir para Miami", diz.
"A única unanimidade que havia em torno de São Paulo, a terra do trabalho, está se desfazendo."
Posição parecida tem o economista pernambucano radicado em São Paulo Francisco de Oliveira, pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e professor titular do Departamento de Sociologia da USP.
"Se o resultado nos permitir divagar um pouco, podemos dizer que ele reflete a perda de rumo do país, rumo que já foi identificado com São Paulo e os paulistas."
Hoje, completa ele, "a antiga simpatia cedeu lugar a uma espécie de ressentimento". Segundo Oliveira, sua experiência em São Paulo, sobretudo quando se adaptava, foi "muito solitária".
Outro intectual nordestino, o antropólogo e escritor baiano Antonio Risério, credita o fato de quase 40% das pessoas não identificarem São Paulo com qualquer coisa à falta de fisionomia da capital. "Ela é um curto-circuito antropológico".
O antropólogo Gilberto Velho, professor titular do Museu Nacional, no Rio, os 13% que mantiveram a idéia do "povo trabalhador" são significativos.

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