São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Estatísticas mostram diferenças de salário

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os nordestinos compõem 19,6% da população paulistana e carregam todos os indicadores da desigualdade social.
Eles ganham pouco mais que a metade do salário médio pago a um não-nordestino: R$ 286,00 contra R$ 529,00, em números de julho de 1994.
Entre os não-nordestinos, 34,9% ocupam a faixa de maior escolaridade. Entre os nordestinos, só 7,5% conseguem chegar até lá. Outro dado: só 3,25% dos não-nordestinos são analfabetos, contra 13,5% dos nordestinos.
São números de uma pesquisa feita há um ano e meio pelo Seade (Fundação Sistema de Análise de Dados) junto a moradores de 4.000 domicílios paulistanos.
A pesquisa não procurou medir a discriminação. Seu objetivo era o de obter um retrato do mercado de trabalho. Mas, pelo local de nascimento de cada entrevistado, foi possível chegar a um perfil atualizado e preciso dessa parcela da população de imigrantes.
Entre os não-nordestinos -no caso, o paulista ou o imigrante que se origina de outras regiões do Brasil-, 50,8% têm um emprego. Entre os nordestinos, os que têm emprego são 61%.
O fato de haver proporcionalmente mais gente trabalhando entre os nordestinos é confirmado quando se contabiliza os inativos, que são os aposentados, crianças e adolescentes com mais de 10 anos ou donas-de-casa.
Entre os não-nordestinos, 41% são inativos, bem mais que os 29,9% de inativos entre os nordestinos que moram em São Paulo.
Ainda um indicador dessa mesma tendência: 32,8% dos não-nordestinos têm entre zero e 14 anos. Entre os nordestinos, só 6% estão nessa faixa etária. É uma idade em que pouquíssimos trabalham.
Com relação ao mercado de empregos, os nordestinos são proporcionalmente um pouco mais numerosos que os não-nordestinos na indústria (24,2% contra 20,7%) e bem mais numerosos na construção civil (8,6% contra 3,4%). Têm, no entanto, uma participação menor no comércio e nos serviços.
É possível, por fim, identificar quem manda e quem obedece entre os empregados da indústria. Entre os nordestinos, só 5,4% ocupam cargos de direção e planejamento, contra 21% dos não-nordestinos. Na execução das tarefas, a proporção se inverte. Estão nelas 78% dos nordestinos e 58,2% dos não-nordestinos.
Sem maior alarde, funcionou até há dois anos em Recife um grupo de estudos que tentou fundamentar o projeto de acabar com a Federação brasileira e criar a república independente no Nordeste.
O Gesne (Grupo de Estudos sobre o Nordeste Independente) trabalhou com a hipótese de que aquela região lucraria, caso rompesse seus vínculos com o Centro-Sul e São Paulo?
O economista Jacques Ribemboim, que coordenou os trabalhos do grupo, dá o seguinte exemplo: a indústria paulista exporta para o consumidor da Paraíba um automóvel por US$ 25 mil. Caso o cidadão paraibano tivesse comprado um veículo semelhante de um fabricante da Coréia do Sul, ele pagaria US$ 15 mil.
(JBN)

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