São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996 |
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BC teria deixado Econômico mentir
GUSTAVO PATÚ
Tal acusação consta da carta de demissão de Barbosa, redigida no primeiro fim de semana do ano e endereçada ao presidente do Banco Central, Gustavo Loyola. O governo não divulgou o conteúdo do documento. Irônico, Barbosa cita o suposto acordo entre BC e Econômico na primeira das três páginas da carta, à qual a Folha teve acesso. O interventor diz ter descoberto "com estranheza" que a notória maquiagem dos balanços do Econômico teria tido o aval do BC. Também na carta, que tem o papel timbrado do Econômico, Barbosa ironiza o programa de fusões do governo. Segundo ele, o programa em nada ajudou a solução encontrada para a reabertura do Econômico. O interventor se denomina um antigo funcionário do Estado e que, por isso, teria estranhado o suposto acordo com o banco baiano. Em toda a carta, ele elogia seu desempenho como interventor, criticado no BC. Segundo a Folha apurou, as críticas de Barbosa foram uma retaliação aos ataques sofridos da direção do BC -que levantou publicamente a possibilidade de o ex-interventor ter vazado a pasta cor-de-rosa contendo documentos sobre as doações eleitorais do Econômico. Procurado ontem, Gustavo Loyola não quis comentar a acusação de Barbosa. Disse, por meio de sua assessoria, que nenhum acordo foi firmado em sua gestão -mas sem descartar que isso possa ter ocorrido em outras gestões. Em sua carta de demissão, Barbosa não diz em que data teria sido feito o suposto acordo. Mas, se verdadeira a acusação, o BC teria permitido que créditos de recebimento duvidoso fossem contabilizados como créditos normais. Quando um devedor atrasa o pagamento de uma dívida, o banco deve separar dinheiro para cobrir o prejuízo iminente, prejudicando o balanço. A maquiagem do balanço é, justamente, considerar que os créditos são de boa qualidade. Segundo técnicos do BC, o Econômico vinha renegociando dívidas atrasadas de empresas falidas que não conseguiriam saldar os compromissos. Dessa forma, embora não visse a cor do dinheiro, o banco conseguia publicar balanços no azul. Balanço No balanço do Econômico referente ao primeiro semestre de 95, o último publicado antes da intervenção federal, os TDAs (Títulos da Dívida Agrária, que significam dinheiro a receber do governo) estão contabilizados pelo valor integral, embora sejam negociados no mercado com deságio de até 60%. Tal critério mereceu uma observação na auditoria independente feita sobre o balanço pela Ernst & Young Auditores. A empresa, porém, considerou que, embora pouco usual, o critério era legal. Os balanços de bancos são enviados ao BC e, quando a empresa tem ações negociadas em Bolsas de Valores, à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O BC examina a solidez do banco e a CVM, a confiabilidade das informações contidas nos balanços. Desde 89, como demonstram documentos em poder da Procuradoria-Geral da República, o BC já tinha conhecimento dos problemas financeiros do Econômico. As recomendações da área técnica, porém, não foram seguidas pelos diretores que ocuparam o BC desde então. Próximo Texto: Documentos revelam empréstimos ilegais Índice |
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