São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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No olho do furacão

CARLOS SARLI

Diz a lenda que o lugar mais seguro para se estar, quando no caminho de um furacão, é no seu centro, bem no meio do vórtice.
Duvido. Baseado nessa crença ou na sua própria, o surfista australiano Ross Clark Jones, 29, diz ter sua estratégia definida para alcançar o que ele considera sua maior ambição, vencer o The Quiksilver in Memory of Eddie Aikau: entubar em Waimea.
A cinco semanas do término do período de espera de três meses que acontece a cada inverno no North Shore de Oahu, Havaí, a ansiedade está no auge para os 33 convidados (nenhum brasileiro).
Não à toa. Em dez anos do único evento de ondas realmente grandes do planeta, só em duas vezes ele foi concretizado.
Na sua primeira versão, em 1986, com a vitória de Clyde, irmão do homenageado, e quatro anos mais tarde, quando Keone Downing levou o título.
Além disso, este ano vem sendo considerado por muitos surfistas habituados aos invernos havaianos como o de melhores ondas dos últimos dez anos.
Até mesmo para o exigente diretor e guru da competição, George Downing, que não permite a sua realização com ondas inferiores a 20 pés, a temporada está promissora.
Tanto é verdade que metade do evento já rolou.
No último dia 29, os convidados foram convocados a Waimea e, até o começo da tarde, quatro baterias de 50 minutos e oito competidores desafiaram as ondas.
À tarde, o swell perdeu intensidade e a direção do The Quiksilver resolveu interrompê-lo.
Os competidores voltaram a ficar aguardando nova convocação para uma segunda bateria, que decidirá o campeonato.
Estar no Havaí neste época do ano, para qualquer surfista, quer dizer alta ansiedade.
Acordar, ir checar as condições e dar de cara com um Sunset 15 pés é uma situação provável e desafiadora, coisa para valente.
A condição dos convidados é ainda mais casca. Ter o nome na lista é uma distinção que deve ser honrada dentro d'água.
Os nervosos 15 pés de Sunset podem virar irados 25 em Waimea, local da competição.
Todas as lentes da mídia especializada mundial de olho na sua performance.
E, de quebra, o maior prêmio do surfe mundial (US$ 50 mil) à espera do campeão.
Dá para dormir com um barulho desses?

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