São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Patricinhas viram heroínas em 'Clueless'

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Para alívio de pais e mestres, chega hoje às telas de São Paulo o outro lado da juventude americana que não o retratado no polêmico "Kids". Ao contrário dos espinhentos, amarrotados e problemáticos adolescentes do filme de Larry Clark, os dourados teens de "As Patricinhas em Beverly Hills" são bem família.
A patricinha-principal, Cher, é interpretada por Alicia Silverstone, a nova darling da indústria cinematográfica norte-americana, uma Cinderela da geração MTV descoberta no clipe "Crazy", do grupo Aerosmith.
A vida de Cher, como ela diz logo no início do filme, parece um comercial de Noxema (famosa linha de produtos cosméticos).
Ela vive numa bem-situada mansão em Los Angeles, escolhe suas roupas por computador; dirige um jipe só seu; fofoca com sua melhor amiga pelo celular e, como suas colegas de geração, passa boa parte de seu tempo no shopping. No caso dela, fazendo shopping. Uma espécie de Riquinho em versão teen.
Seus problemas consistem em arranjar namorados para a amiga feiosa, cuidar da dieta baixa em colesterol do pai e administrar o romance de dois professores para melhorar o humor deles -melhorando, por consequência, as notas de seu boletim.
Cher também valoriza a virgindade -preserva-se para aquele que realmente ama (ou para o bonitão Luke Perry, o que vier primeiro, talvez).
Bem ao contrário dos kids. E, idem, idem, idem, faz uso recreativo e moderado da maconha, reprovando ainda aqueles que o fazem "o dia inteiro". Cher é a boazinha de plantão na América. E nem percebe que o garoto em que está interessada é gay.
Cher e sua ingênua "joie-de-vivre" conquistaram os EUA, desejosos por uma jovem heroína saudável e feliz, mesmo que burra e alienada (ela prefere Beavis e Butthead ao noticiário internacional, preocupa-se com seu modelão Alaia mesmo em meio a um assalto e, para conquistar seu meio-irmão intelectualizado e sério investe em campanhas filantrópicas e visitas a museus).
OK, as imagens e comparações não são das mais criativas, quase previsíveis. Mas alguns dos diálogos e expressões celebradas por Cher e seus amigos no filme (leia texto abaixo) refletem de fato o universo do jovem classe média/alta dos anos 80/90.
"Clueless", sem qualquer pista na tradução literal, é aquele que não tem noção de nada, não tem idéia, um tonto. É como Cher caçoa de alguém de fora de seu grupo e adjetivo que serve para batizar o filme.
"Você pensa que eu sou apenas uma idiota com um cartão de crédito?", reclama, à certa altura, ofendida. As patricinhas que atirem a primeira pedra...

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