São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Integrantes da expedição descem pela cachoeira da Fumaça

ROBERTO LINSKER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Grupo explora e 'encolhe' a cachoeira da Fumaça (BA)
Queda d'água possui 82 metros menos que sua medida oficial conhecida
Quem a vê pela primeira vez mal consegue acreditar: é muito alta a cachoeira da Fumaça.
Localizada na Chapada Diamantina (BA), a cachoeira tem, merecidamente, o título de mais alta queda d'água do país.
Foi assim quando a vi em 1987. Na época, a cachoeira da Fumaça contabilizava 422 metros, a maior queda d'água do Brasil. Mas o cálculo oficial está errado.
Ninguém falava em descer cachoeiras, ninguém ousava nem sequer sonhar com a idéia. Escalar a encosta negativa da parede era idéia remota.
Durante um bom tempo, o sonho da cachoeira ficou na fumaça, somente ganhando forma de projeto em 1994, ao conhecer a equipe H2omem de canyoning, que desde 90 lançava-se atrás das águas onde quer que elas fossem. Em dezembro de 95 estava quase tudo pronto, somente um item -o mais importante- separava o sonho da realidade: as cordas.
Foram adquiridos dois carretéis de 470 metros contínuos, pesando 80 quilos no total, o suficiente para descer um edifício de 150 andares; agora era só relaxar. Para isso, nada melhor do que a cidade de Lençóis, no coração da mais bela e diamantina chapada do Brasil.
Além dos quatro esportistas envolvidos (Carlos Zaith, Nicoletta Moracchioli, Marcos Philadelphi e eu), mais 12 pessoas foram destacadas para filmagem e apoio.
Carga pesada
Uma autêntica expedição com direito a tropa de mulas para carregar os quase 1.000 kg de materiais nas escarpadas trilhas da chapada, campo de base em barracas e intercomunicação via rádio.
Tudo isso sob o sol da Bahia. À noite, uma grossa neblina fazia pensar se estávamos realmente nas terras do escritor Jorge Amado.
No segundo dia, a montagem criteriosa dos pontos de ancoragem e a surpresa na constatação da verdadeira altura da cachoeira: 340 metros; 82 metros a menos do que o registro oficial. Mas, ainda assim, a maior do Brasil.
No alvorecer do dia 5 de janeiro, o céu mostra uma rara limpidez, a Lua ainda cheia está prestes a desaparecer no horizonte a oeste e, a leste, o Sol desponta. O dia é perfeito, daqueles em que paira no ar a cumplicidade dos deuses.
Nicole e Marcos engatam seus "racks" na corda e, após meia hora de preparativos, decolam para a primeira descida da cachoeira da Fumaça. Trinta minutos depois, lá estão eles na base.
À tarde, Carlos e eu completamos a expedição. O medo se encerra no momento em que o corpo perde contato com a terra e fica por um fio. Para quem assiste, a visão é onírica. E para quem desce é puro prazer.
O abismo imenso pouco a pouco ganha forma: lago, rochas, árvores e pessoas adquirem novamente a escala cotidiana.

LEIA MAIS
sobre a cachoeira nas págs. 6-12 e 6-13

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