São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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A palavra por um fio

JANIO DE FREITAS

O que o ministro Sérgio Motta disse sobre privatização e telefonia, ao depor na Câmara, por ora não é para ser levado a sério, mas uma verdade ele cometeu lá, embora ficando na meia-verdade. Foi a afirmação do seu desejo de participar ativamente da campanha para eleições municipais neste ano: Sérgio Motta está consolidado como o candidato da cúpula do PSDB, o que inclui seu próprio desejo, à Prefeitura de São Paulo.
Apesar de muito superiores às de Sérgio Motta e de qualquer outro peessedebista, nem por isso as possibilidades eleitorais de José Serra o estimulam a disputar a eleição. Ele pensa mais alto. E Sérgio Motta, se eleito, é um modo de Serra estar na prefeitura.
A única indagação da cúpula peessedebista, sobre a candidatura de Motta, é quanto à sua condição de saúde. Nem tanto pela operação cardíaca, mas pelo acréscimo do diabetes persistente, umas quantas complicações adicionais e pelo desregramento voraz que ele adota como norma, em lugar das recomendações médicas -e talvez, como é da praxe entre políticos, para passar por saudável absoluto.
Já próxima a campanha, cujos primeiros compassos devem acontecer daqui a uns três meses, o previsível é que Sérgio Motta esteja em condições de responder à indagação dos peessedebistas, em abril, com sua desincompatibilização. Sendo assim, nada do que ele diz sobre privatização e telefonia tem importância. Por mais que ele deixe garatujados os seus planos, o destino deles vai ser definido pelo sucessor e pelas condições políticas de então, influenciadas pela própria sucessão ministerial.
A impressão que Sérgio Motta tem deixado com suas declarações contraditórias, e mais ainda com o que disse na Câmara, é que vai falando de privatização e telefonia apenas para falar. Não faz o menor sentido essa história, que deixou parlamentares estarrecidos, de primeiro recuperar as 27 telefônicas estatais, depois agrupá-las em meia-dúzia de "holdings", abrir a telefonia à iniciativa privada para instaurar a competição com as "holdings" e afinal privatizar as "holdings". O que "só deve estar completado no próximo governo". Se não chover.
É muita trapalhada "para não substituir o monopólio estatal pelo monopólio privado". Não seria necessário mais do que autorizar, de acordo com o liberalismo e como é feito nos Estados Unidos, o funcionamento de várias telefônicas privadas disputando o mesmo mercado, seja Estado ou cidade. E os usuários só teriam a ganhar.
Um efeito, porém, têm as declarações de Sérgio Motta: indispõem ainda mais os parlamentares contra o projeto regulamentador da telefonia, mandado ao Congresso pelo governo. O resto é mero blablablá.
Já visto
O Corredor Bioceânico, uma dupla linha rodoferroviária ligando o porto de Vitória ao Pacífico peruano, tem algumas coincidências interessantes. O custo da parte brasileira, por exemplo, seria igual ao da Ferrovia Norte-Sul. O proponente do projeto, que o apresentou anteontem à esquisita Comissão de Corredores Oceânicos criada por Fernando Henrique Cardoso, é Paulo Vivacqua, o que elaborou o projeto e aquela concorrência da Norte-Sul.
Está definida a idoneidade do plano.

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