São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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"Toy Story" faz a cabeça de intelectual

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Você não faz idéia do que é convencer um intelectual a gozar a vida. Quarta, fui submetida à ingrata tarefa de arrastar minha culta amiga Florspanca Esbelta ao shopping para assistir a um filme "de criança".
Com medo de ser flagrada na fila de "Toy Story" por algum comparsa do Cebrap, Esbelta se pôs a tremer e matraquear sobre o indigesto tema "Hollywood enquanto arma imperialista de lavagem cerebral".
Nisso, emburrei de vez. Não por causa do previsível chilique de Florspanca, mas por constatar que a fila ao lado, para a última babaquice perpetrada por Michael Douglas, "Meu Querido Presidente", era quilométrica comparada à do filme que iríamos assistir. "Como é que pode?", pensei. "'Toy Story' reuniu toda a tradição dos estúdios Disney à genialidade de Spielberg e Steve Jobs e esses batráquios preferem ver mais uma joça estrelada pelo filho canastrão do igualmente canastrão Kirk?"
Recompostas, na sala de espera do cinema, Esbelta e eu apostamos um jantar no restaurante de escolha da vencedora, como ela iria gostar de "Toy Story". Desnecessário dizer, mas eu faço questão: ganhei a aposta.
É impossível não ficar fascinado com o primeiro longa de animação feito inteiramente por computador.
Já sei. O leitor "anti-nerd" dirá que o filme carece de alma. Balela! Apesar de seu criador, John Lasseter, ter afirmado que "provavelmente mais PhDs trabalharam em 'Toy Story' do que em qualquer outro filme da história", o maior mérito do filme é, justamente, ter conseguido aliar o hermetismo de programadores de computador à criatividade de animadores. "Toy Story" tem um ótimo roteiro e, pasme, é emocionante.
As estrelas do filme são brinquedos. Com sentimentos como inveja e pavor a datas como o Natal ou o aniversário do dono, quando arriscam ser rejeitados. Alguns protagonistas, como o bassê com corpo de mola e os soldados de plástico, são amigos da criançada há gerações.
O que fez Florspanca concluir, do alto de sua sabedoria, que "Toy Story" não é só um "filme de criança". É para qualquer um, mesmo intelectual, que tenha tido infância.

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