São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Vendas superam as expectativas

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

É consenso entre consultores e executivos que as vendas de janeiro estão acima das expectativas. Não há consenso na interpretação do fato, se é um movimento limitado de reposição de estoques ou um aquecimento sustentado.
Para a equipe econômica, é cedo para qualquer reavaliação. Segundo o diretor de Política Econômica do Banco Central, Francisco Lopes, o governo "continua na calibragem de crescer 4% em 96", sendo nada no primeiro trimestre e algo como 6% no segundo.
Ainda no começo de dezembro de 1995, a discussão nos meios econômicos era para saber se janeiro seria apenas ruim ou muito ruim. Essa expectativa começou a mudar com as vendas de Natal, superiores às previsões.
Esse fato mudou a avaliação para janeiro, pois, se o comércio havia vendido mais do que esperava, então provavelmente entraria em janeiro com estoques baixos. Precisaria, assim, fazer encomendas à indústria, juntando mais um elo na cadeia produtiva.
Nesse caso, o mês ruim seria transferido para fevereiro, que já é normalmente pior para os negócios por causa do Carnaval.
É certo que haverá reposição de estoques. O economista Roberto Macedo, presidente da Eletros, entidade que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos, confirma que, em reuniões com lojistas, estes informaram que haveria encomendas pois o Natal havia sido bom.
Mas acrescentaram que também estavam vendendo bem em janeiro. Executivos de grandes lojas de departamentos, ouvidos pela Folha ao longo da semana, confirmaram que as vendas seguem em ritmo próximo ao de janeiro do ano passado, que foi muito bom.
Essa é a novidade importante. E qual a explicação para isso? "Não sei", diz o executivo Décio Ortiz, do Mappin, resumindo comentários mais longos de seus colegas, mas com o mesmo sentido.
Cândido Bracher, do Banco BBA, embora admitindo que os dados ainda são precários, arrisca uma resposta. Para ele, as circunstâncias sugerem mais um movimento sustentado de consumo do que reposição de estoques.
Essa hipótese acende a luz amarela nos meios econômicos.
Toda a política econômica do governo está "calibrada" para um crescimento de 4% neste ano, com inflação na casa dos 15% e taxa de juros anual média sendo 15 pontos acima da inflação. Prevê ainda um superávit no comércio externo de US$ 1 bilhão a US$ 3 bilhões.
Se o consumo estiver mais aquecido do que o previsto, desmonta todo esse cenário. Surgem pressões inflacionárias e piora o comércio externo, pois crescem as importações e caem as exportações. Tendo um bom mercado local, as empresas não têm estímulo para exportar.
Inflação em alta e déficit comercial é uma combinação explosiva, que exige ação do governo. E todo mundo nos meios econômicos se assusta só de pensar na possibilidade de o governo reviver a política do ano passado, de juros altíssimos e crédito restrito.
É por isso que o movimento de vendas é acompanhado em sintonia fina. Até aqui, a equipe econômica não dá sinais de preocupação. Avaliação feita nesta semana indica que, por enquanto, está ocorrendo uma reposição de estoques do comércio.
Considerou-se ainda que três semanas de janeiro é um período muito pequeno para que se possa identificar tendência.
Não há o que mudar, portanto. Mas continuam todos, governo e setor privado, de olho nas vendas. Diariamente.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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