São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Produto refinado impulsiona exportação

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresas brasileiras que decidiram competir no mercado internacional com produtos mais elaborados estão animadas com os planos de exportação para 1996. A expectativa é vender no exterior até 17% mais do que em 1995.
Entenda-se como mais elaborados os produtos mais trabalhados e que por isso, geralmente, custam mais do que os básicos e atendem consumidores mais exigentes.
São, por exemplo, frangos com cortes especiais ou recheados, sapatos finos, máquinas modernas, móveis, cerâmicas e até jóias.
"O Brasil é agora competitivo nos produtos que agregam valor", diz Carlo Barbieri Filho, presidente da Associação Brasileira das Empresas Trading.
Na linha de industrializados, por exemplo, afirma ele, não há como competir com os países da Ásia. "O Brasil pode até exportar sapato para a China, desde que atenda a classe média -e não o chinês de baixa renda."
As tradings, que no ano passado exportaram US$ 18,8 bilhões ou 74% mais do que em 1995, esperavam crescer mais 17% neste ano.
Para Barbieri Filho, este crescimento será especialmente puxado pelas exportações de manufaturados. Parte disso também se explica pelo fato de o governo ter ampliado no final de 1995 a lista de produtos que podem ter 100% de financiamento na exportação.
Nos calçados, a linha mais elaborada também está se saindo bem lá fora. A Agabê, uma das maiores exportadoras de calçados masculinos de Franca (SP), informa que no ano passado exportou US$ 23 milhões -US$ 1 milhão mais do que em 1994- e tem planos para crescer mais 8% neste ano.
Miguel Heitor Bettarello, diretor, diz que o seu produto -exportado a US$ 20 o par- compete especialmente com o calçado italiano. "Quem exporta sapato mais trabalhado não sofre concorrência com a China", argumenta.
A Perdigão estima crescer 10% suas vendas externas neste ano sobre o ano passado, que somou US$ 210 milhões.
Produtos semi-elaborados (frangos com cortes especiais) e industrializados (frangos recheados e empanados) puxam as vendas.
"Reduzimos os embarques de frangos inteiros para competir com produtos mais trabalhados e fomos muito bem", diz Ricardo Menezes, diretor da Perdigão.
A expectativa de abrir novos mercados também anima a empresa. Na quarta-feira passada, a Perdigão fechou contrato para exportar 2.000 toneladas de produtos (US$ 2,5 milhões) para Cuba.
"Também devemos entrar em Cingapura e alguns países da Europa", diz o diretor.
A Ceval, que em 1995 exportou US$ 1,13 bilhão ou 17,3% mais do que em 1994, também projeta crescimento nas suas vendas para o mercado externo.
"Temos que agregar valor ao frango para não ter que competir com a economia informal, que vende frango inteiro. Além disso, o consumidor quer cada vez mais produtos semi-prontos. Ninguém mais compra galinha viva", diz Antonio Carlos Silva, diretor de relações com o mercado.
Segundo ele, os derivados de soja -produtos importantes na lista de exportações da Ceval- estão com preços em alta no mercado internacional e isso faz a empresa apostar numa exportação mais rentável em 1996.
Ao contrário da concorrência, a Sadia não vê as vendas externas com grande entusiasmo. Luiz Furlan, diretor-presidente do conselho de administração, diz que a política cambial não deve se alterar -e isso desestimula as exportações.
"O câmbio variando abaixo da inflação e do custo financeiro o estímulo é para a importação e não para a exportação."
Além disso, diz Furlan, os preços dos seus produtos no mercado internacional não mostram tendência de alta.
Furlan espera para o primeiro trimestre deste ano déficit na balança comercial brasileira em torno de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões.
As exportações da Sadia, diz ele, representaram no ano passado cerca de 15% do faturamento da empresa (em torno de US$ 3 bilhões). Há três anos, lembra, participavam com 28%.
"Mas o esforço para ganhar mercado continua." Para o Japão, a Sadia exporta partes de frango desossado; para a Europa, produtos congelados para o mercado institucional; para o Oriente Médio, frango inteiro e partes e, para a Argentina, salame e salsicha.

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