São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Absolvição deu confiança ao presidente

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Acabou pouco ou nada adiantando, para o presidente Ernesto Samper sua absolvição pelo comitê de investigações do Congresso, no final do ano passado.
Por 14 votos contra apenas 1, foi arquivada a denúncia de que ele sabia da entrada de dólares do narcotráfico em sua campanha eleitoral de 1994.
Diante do resultado amplamente favorável e de manifestações de solidariedade dos três maiores empresários do país, Samper tratou de mostrar-se confiante na integridade de seu mandato nomeando um novo ministério.
Foi mantida a cota de três pastas para políticos conservadores, adversários tradicionais do Partido Liberal, de Samper. Maneira de conseguir "governabilidade" nas relações com o Congresso.
Também tornou-se ministro o presidente da Central Unitária dos Trabalhadores, espécie de aval ao chamado "pacto social" entre governo, empresários e sindicatos.
O restante ficou com amigos leais. "Cuidadosa montagem de um edifício de estabilidade", escreveu um conhecido colunista político. Mas, de repente, a imagem é de desmoronamento.
O conservador Andrés Pastrana, derrotado por Samper, e o embaixador dos Estados Unidos, cujas legiões de viciados são abastecidas pelos cartéis colombianos, chamaram de farsa a investigação do Congresso colombiano.
O próprio presidente da comissão, deputado Heyne Mogollón, é acusado de relações com a droga.
No final de dezembro, Guillermo Pallomari, que se entregou às autoridades americanas e era o principal contador do cartel de Cali, confirmou a entrega de US$ 6 milhões à campanha de Samper, contrariando negativas de seus ex-chefões.
Embora tido pelos amigos de Samper como "conspirador contra o presidente", o popularíssimo Alfonso Valdivieso ganhou mandato de mais três anos como procurador-geral.
Valdivieso, comandante do processo 8.000, contra a presença da droga na política, autorizou prisão domiciliar para o ex-tesoureiro da campanha de Samper, Santiago Medina, e manteve preso num quartel o ex-ministro da Defesa Fernando Botero Zea, suspeito de ter sido um dos captadores para Samper de narcodólares.
Sentindo-se bode expiatório, Botero, a principal vítima política do narcoescândalo, ao menos até agora, decidiu abrir o bico, detonando a atual crise.

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